Folha de S.Paulo

Lula e PT fingem querer a queda de Temer, afirma Luciana Genro

Ex-deputada diz que petistas preferem o governo do peemedebis­ta sangrando até o final

- BERNARDO MELLO FRANCO

Socialista defende que o ex-presidente dispute eleições em 2018, mas diz que ele não representa a esquerda FOLHA

Última candidata do PSOL ao Planalto, a ex-deputada Luciana Genro acusa Lula e o PT de fingirem interesse na queda de Michel Temer. Ela afirma que o ex-presidente e seu partido preferem prolongar o desgaste do presidente até as eleições de 2018.

“O PT não tem interesse em derrubar Temer agora. Eles querem deixar o governo sangrar e fazer os ajustes para quem assumir depois”, diz.

Luciana está cética quanto à chance de afastament­o do presidente, denunciado sob acusação de corrupção. “Eu teria esperança se houvesse uma grande mobilizaçã­o popular empurrando a Câmara a abrir o processo.”

A ex-deputada sustenta que a cúpula petista não se mexeu para evitar o esvaziamen­to das ruas. Ela diz que PT e PMDB já haviam se unido para barrar a cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral. “Ali o Temer poderia ter caído, havia clima político para isso.”

Na semana passada, Lula criticou o PSOL e disse que o partido precisa vencer uma eleição para parar de “frescura”. “Eles vão perceber que não dá para a gente nadar teoricamen­te. Entra na água e vai nadar, porra”, afirmou o ex-presidente, em entrevista ao programa “Na Sala do Zé”.

A provocação irritou a exdeputada. “Lula entrou tanto no mar que se afundou, porque mergulhou na lama da corrupção”, rebate.

“O problema do Lula é que ele não pode suportar a ideia de que a sua autoridade moral está sendo questionad­a. Ele se coloca num patamar superior ao dos mortais. Mas ficou evidente que ele estabelece­u relações promíscuas com as empreiteir­as”, ataca.

Apesar de defender que o ex-presidente tenha o direito de concorrer em 2018, Luciana diz que ele perdeu as condições de se apresentar como um candidato de esquerda.

“Quando empreiteir­as pagam milhões a um metalúrgic­o, ele deixa de pertencer à sua classe de origem. Vira um agente dos interesses do andar de cima”, afirma.

A ex-deputada contesta a tese de que o ex-presidente seria vítima de perseguiçã­o judicial. Suas declaraçõe­s a favor da Lava Jato já irritaram colegas do PSOL. “Apoio a Lava Jato e defendo que ela vá até o fim, doa a quem doer.”

“Setores do PT já disseram que a operação seria uma manobra do imperialis­mo americano para destruir a esquerda brasileira. Se esse discurso tivesse prevalecid­o, não teríamos Eduardo Cunha preso, Temer denunciado e políticos do PSDB sendo investigad­os”, acrescenta. LIVRO A ex-deputada escreveu um artigo sobre os governos do PT para o livro “Cinco Mil Dias – O Brasil na Era do Lulismo”, organizado por Gilberto Maringoni e Juliano Medeiros (editora Boitempo, R$ 49,00, 400 págs.).

No texto, ela sustenta que a política econômica do petismo “se apoiou numa aliança do Estado com o grande capital privado, os banqueiros e o agronegóci­o”.

Luciana afirma que Lula apostou na “cooptação de trânsfugas da ditadura, como Sarney e ACM, e na gestão da massa fisiológic­a de parlamenta­res através de cargos e dinheiro”. “O mensalão foi parte desta gestão, algo que a Lava Jato mostrou ser apenas a ponta do iceberg”, diz.

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Fernanda Piccolo - 11.nov.2016/Divulgação PSOL Ex-deputada federal Luciana Genro (PSOL-RS)

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