Dados da Polícia Militar e doDetranconfirmamasensação de que há pouca fiscalização. Em 2016, na capital, foram
DE SÃO PAULO
O Volkswagen Jetta acelera pela madrugada de uma sexta-feira em São Paulo. O velocímetro aponta o dobro da velocidade permitida na av. dos Bandeirantes, área nobre da zona sul da cidade.
No comando do Jetta está o advogado Artur Stoggia, 33, após uma festa na zona oeste, onde havia bebido. Na volta para casa, em alta velocidade ecomreflexosdiminuídos,ele não consegue evitar a colisão contra o Peugeot 207. Com o impacto, o carro atingido explode e pega fogo.
Dentro dele, o comissário de bordo Alexandre Stoian, 43, morre incinerado. Sua mulher consegue se salvar com ferimentos. “Sinto que todos retomaram suas rotinas e eu não consigo me mover”, lamenta Fernanda Stoian, agora viúva de Alexandre.
Duas semanas após o crime, o consultor de vendas Flávio (nome fictício), 30, chega com mais dois amigos à casa de show Villa Country. O local é o mesmo em que o advogado Stoggia estava antes de beber e bater o carro.
Convicto,Flávioafirmaàreportagem que irá beber e dirigir. “Sabe como é. Aqui é Brasil”, comenta sobre a sensação de que chegará em casa sem passar pela fiscalização.
Após a festa, a reportagem encontra um caminhoneiro de 45 anos que admite que bebeu e irá dirigir. “É difícil alguém que vá para uma balada e não beba”, diz. “Acho que faltou tomar um pouco de água antes de dirigir.”
Na mesma noite, na Vila Madalena, uma arquiteta de 42 anos, que não quis se identificar,dizterbebido“umchope” ao pegar as chaves do seu carro com o manobrista. “Acho que é normal, não?”.
E, na madrugada de sábado (29), cinco pessoas foram atropeladas na rua Augusta por um motorista que tinha bebido. Preso em flagrante, o promotor de eventos e estudante de engenharia Paulo Negri, 22, que dirigia o carro, acabouliberadoapóspagarfiança de R$ 5.000.
O teste do bafômetro feito poreleapontou0,78mg/l(miligrama de álcool por litro de ar expelido), mais que o dobrodolimiteparanãoserconsiderado crime. As vítimas foram para hospitais da região. Segundo familiares, um dos jovens pode perder um braço. Negri diz que foi fechado por outro veículo e que errou ao dirigir embriagado.
Para especialistas, a chance de casos como esses acontecerem poderiam ser reduzidas se o Estado de São Paulo conseguisse fiscalizar melhor a segurança do trânsito. Ou se, no campo jurídico, houvesse uma forma mais simples de classificar e punir crimes feitos por motoristas. BAIXO DESEMPENHO
HORÁCIO FIGUEIRA
engenheiro de transporte feitas 147 mil abordagens a motoristas para verificação de embriaguez.
Esse número pode parecer grande, mas, para uma cidade com 8,5 milhões de veículos, seria como dizer que, em 2016, o motorista de São Paulo teve a probabilidade de ser abordado por uma blitz a cada 58 carros. Considerando todo o Estado, foram 619 mil abordagens —proporção de um veículo parado a cada 46.
Já no Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a relação foi de um em 22 veículos no ano passado. Na capital fluminense, esse índice vai para um a cada 11 —quase cinco vezes melhor do que a cidade de São Paulo.
Para especialistas ouvidos pela Folha, a condição geográfica do Rio, que praticamente impossibilita o uso de vias alternativas pelos motoristas, facilita as blitze.
“Ainda assim, a polícia de São Paulo precisa investir em inteligência para saber como abordar o motorista. Tem que variar as vias e os horários em que faz fiscalização”, diz o presidente da comissão de direito viário da OAB de São Paulo, Maurício Januzzi.
Segundo o diretor do centro de pesquisa em álcool e drogas do Hospital das Clínicas da Federal do RS, Flávio Pechansky, a função da blitz não é apenas identificar o motorista alcoolizado e retirá-lo Estado de SP Estado do RJ Capital do RJ Veículos fiscalizados em 2016 (total de testes de bafômetro feitos + recusas) Estado de SP Estado do RJ Capital do RJ
recolher os corpos e tratar os lesionados
Capital de SP Carro em que estava o casal Fernanda e Alexandre Stoian, que pegou fogo após impacto com veículo de advogado que dirigia alcoolizado