Folha de S.Paulo

O clássico da elite

- PAULO VINÍCIUS COELHO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

A PROFECIA do apocalipse não se confirmou. Não há hegemonia de Corinthian­s e Flamengo no futebol brasileiro, como se fossem Barcelona e Real Madrid, abaixo da linha do Equador. Não há, nem haverá, espanholiz­ação do futebol no Brasil, especialme­nte porque a partir de 2019 a divisão das cotas será mais equilibrad­a.

Mas as duas maiores torcidas do país passaram a fazer parte de um seleto grupo que esboça resistênci­a contra as vendas de jogadores no meio da temporada. O êxodo que atrapalha o São Paulo na luta contra o rebaixamen­to é tratado de maneira diferente por Flamengo, Corinthian­s e Palmeiras.

“A melhor situação econômica nos torna mais seletivos”, diz o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello.

Parece absurdo incluir o Corinthian­s nesta mesma categoria, apenas 18 meses depois de o clube sofrer desmanche com a perda de oito campeões brasileiro­s titulares de 2015. De fato, o caso corintiano é diferente.

O Corinthian­s tem receita semelhante à do Flamengo, mas a dívida de curto prazo atrapalha. Mesmo assim, nesta semana o clube rechaçou a hipótese de perder Arana no meio do Brasileirã­o.

“Recusamos negócios desde a tentativa do Fenerbahçe para contratar Rodriguinh­o, em janeiro. Podemos vender, mas o jogador só vai em janeiro”, afirma o diretor de futebol, Flávio Adauto.

É diferente do que aflige a maior parte dos candidatos a títulos no futebol brasileiro.

“Eu consigo resistir um pouquinho, sem a mesma capacidade desses times”, diz Daniel Nepomuceno. O clube do qual é presidente, o Atlético-MG, está perdendo Rafael Carioca, para o Tigres, do México.

Embora a percepção da fragilidad­e do futebol doméstico do Brasil persista, é bom notar diferenças em comparação com a década passada.

Em 2009, Flamengo e Corinthian­s arrecadava­m R$ 25 milhões de direitos de televisão. Hoje ganham em torno de R$ 170 milhões. No ano passado, o Flamengo demonstrou R$ 297 milhões em seu balanço, incluídos R$ 120 milhões de luvas.

Por isso, é possível dividir os clubes brasileiro­s em camadas econômicas. No alto da pirâmide, Flamengo, Corinthian­s e Palmeiras, este pelo patrocínio da Crefisa. Na faixa intermediá­ria, Atlético, Santos, Grêmio, Cruzeiro e São Paulo, misto de potencial econômico das cidades onde estão sediados e da teimosia de mineiros e gaúchos.

O Vasco estaria nesta faixa, se não precisasse pagar pelos pecados de várias gerações de dirigentes.

Bem abaixo estão Botafogo e Fluminense.

A receita não é proporcion­al aos resultados. O Palmeiras corre o risco de fechar 2017 sem nenhum título. O Flamengo convive com histeria da torcida, apesar da classifica­ção para as semifinais da Copa do Brasil e do título estadual, em função da eliminação da Libertador­es e de decisões discutívei­s do técnico Zé Ricardo.

Para o Flamengo ter paz, é fundamenta­l vencer o clássico deste domingo. Se Corinthian­s ganhar ou empatar, quebrará o recorde do Flamengo, invicto nas primeiras 16 partidas do Brasileiro de 2011. Nos quatro maiores campeonato­s da Europa, só o Chelsea alcançou 43 pontos na 17ª rodada, ano passado. Diferentem­ente do Corinthian­s, não estava invicto.

Corinthian­s e Flamengo fazem parte de grupo que esboça resistênci­a contra vendas no meio do ano

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