Folha de S.Paulo

Desmedida ambição

- TOSTÃO

A AUSÊNCIA, até o fim da Copa do Brasil de alguns jogadores recentemen­te contratado­s, caríssimos, por causa do regulament­o, é uma tremenda burrice, contra a qualidade do espetáculo e contra o negócio futebol. Regras são essenciais, desde que sejam bem-feitas. O Brasil está repleto de corruptos, intolerant­es, incompeten­tes e de Zé Regrinhas.

Domingo é dia de dois ótimos jogos pelo Brasileiro, Corinthian­s x Flamengo e Grêmio x Santos, quatro das principais equipes do campeonato. Será uma boa ocasião para analisar e comparar melhor os times.

A cada dia, estou mais convicto de que Renato Gaúcho, no longo tempo em que ficou sem trabalhar, estudou muito, diariament­e, na praia, pela manhã, e que viu, pela tarde e à noite, um grande número de jogos pela televisão.

Palmeiras, Flamengo e AtléticoMG, apontados como favoritos no início do Brasileiro, não estão entre os três primeiros colocados. Palmeiras e Atlético-MG estão fora da Copa do Brasil. O Flamengo, que já foi eliminado da Libertador­es, se classifico­u após uma derrota por 4 a 2 para o Santos.

Enquanto Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG, por terem grandes elencos, mudam demais os times, a cada partida ou durante os jogos, prejudican­do a formação do conjunto, como se tivessem obrigação de escalar todos os jogadores contratado­s, outros, como Grêmio, Corinthian­s, Botafogo e Cruzeiro, possuem times definidos, alternando alguns poucos atletas, o que mantém a força coletiva. Os elencos de Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG não são também tão bons quanto dizem.

Zé Ricardo é um jovem treinador, organizado, estudioso, metódico, sério, mas é ainda um técnico compartime­ntado, que não consegue juntar as peças, formar um todo. Poucos, no início de carreira, têm essa sabedoria. Conhecimen­to não é apenas informação. Ele parece ter gratidão por alguns jogadores, bastante criticados pelos torcedores, que o apoiaram no início do trabalho. Zé Ricardo deve evoluir com o tempo.

No Atlético-MG, a contrataçã­o de um jovem treinador, que nunca tinha dirigido uma equipe de Série A, para estrear em um jogo decisivo e fora de casa foi mais uma aventura do presidente do clube, que, no ano passado, dispensou Marcelo Oliveira, após o primeiro jogo da final da Copa do Brasil, contra o Grêmio. Foi errado e desrespeit­oso com o técnico.

O Palmeiras gastou uma fortuna e continua sem bons laterais e centroavan­tes. Nunca imaginei que Willian faria falta. Borja continua triste, jogando com a cabeça baixa, perdido no tempo e no espaço. Para mostrar que quer reagir, briga com o árbitro e com os adversário­s, em vez de jogar bola.

A imprevisib­ilidade do futebol não é o único motivo para alguns clubes gastarem tanto, sem conseguir formar um ótimo time. De quem é a maior responsabi­lidade? Muitos jogadores não são indicados pelos técnicos, que costumam também ter pouco tempo para formar as equipes. Isso não apaga seus erros. Os diretores de futebol nunca foram atletas, o que não é uma condição obrigatóri­a para fazer boas contrataçõ­es, mas ajuda. Empresário­s pressionam dirigentes e técnicos, desde as categorias de base, para colocar, nos clubes, seus clientes.

Isso é perigoso. Não se pode ignorar a desmedida ambição humana, ainda mais em um país em que a trambicage­m virou rotina.

Clubes como Flamengo Palmeiras e Atlético-MG gastam muito sem formar as melhores equipes

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