Nas artes visuais, novas tecnologias permitem até passear dentro das obras
Nas artes visuais, a realidade virtual também dá as caras. Ferramenta do Google, o Tilt Brush, possibilita realizar obras multidimensionais num ambiente de 360º por meio de dois dispositivos que atuam como pincéis. E permite que artistas passeiem por dentro dos desenhos e esculpam com fios de luz sem se preocupar com o gasto de materiais ou leis de Newton.
Para a artista contemporânea Drue Kataoka, uma das pioneiras a incorporar realidade virtual em seus trabalhos, a utilização dessa tecnologia é um importante passo.
Ela diz que isso representa a materialização da vontade dos artistas de “dar uma de Deus”, construindo universos do zero, e que esse desejo tende a ultrapassar o âmbito artístico. “Tem o potencial de afetar como trabalhamos, nos divertimos, relaxamos e governamos”, afirma.
A artista japonesa, que faz experimentos com ondas cerebrais e foi a primeira a realizar uma exposição com gravidade zero, diz que não há limite na interferência da tecnologia dentro das artes.
“Tecnologia é arte, e arte é tecnologia. Me interesso em integrar organicamente os dois e subverter o ‘muro de Berlim’ que frequentemente os separa”, explica.
Para Alexandre Calil Sicchieri, CEO do estúdio australiano “VRXP- Virtual Reality Experience”, a nova tecnologia introduz um novo tipo de arte. Mas ele não crê que vá substituir as tradicionais formas de produção. Segundo ele, os dispositivos podem, inclusive, ser usados como ferramentas de teste para a realização de obras físicas.
“A tendência é que essa tecnologia se torne cada vez mais intuitiva, e poderá praticamente simular qualquer tipo de experiência”, diz.
Em junho, Sicchieri coordenou uma mostra de realidade virtual dentro do Festival Varilux de Cinema Francês em São Paulo e Rio, que contou com oito curtas. Apesar de a liberdade do espectador ser maior, neles o público ainda não consegue interferir efetivamente no filme.
Apesar das possibilidades positivas, essa tecnologia não está livre de contrapontos, segundo Marcelo Knörich Zuffo, coordenador do Centro Interdisciplinar de Tecnologias Interativas e professor da Escola Politécnica da USP.
“Algumas podem causar náusea, enjoo e até desmaio. Existemprocedimentoseprotocolos em andamento para prevenir usuários”, afirma.
O principal motivo é a confusão que o aparelho visual gera no cérebro. Quando um indivíduo sentado usa os óculos, por exemplo, os movimentos induzidos não são acompanhados pelo corpo.
“Como qualquer tecnologia seu uso apropriado acaba nas mãos do próprio usuário”, diz Sicchieri.