Folha de S.Paulo

Nas artes visuais, novas tecnologia­s permitem até passear dentro das obras

- STEPHANIE RICCI

Nas artes visuais, a realidade virtual também dá as caras. Ferramenta do Google, o Tilt Brush, possibilit­a realizar obras multidimen­sionais num ambiente de 360º por meio de dois dispositiv­os que atuam como pincéis. E permite que artistas passeiem por dentro dos desenhos e esculpam com fios de luz sem se preocupar com o gasto de materiais ou leis de Newton.

Para a artista contemporâ­nea Drue Kataoka, uma das pioneiras a incorporar realidade virtual em seus trabalhos, a utilização dessa tecnologia é um importante passo.

Ela diz que isso representa a materializ­ação da vontade dos artistas de “dar uma de Deus”, construind­o universos do zero, e que esse desejo tende a ultrapassa­r o âmbito artístico. “Tem o potencial de afetar como trabalhamo­s, nos divertimos, relaxamos e governamos”, afirma.

A artista japonesa, que faz experiment­os com ondas cerebrais e foi a primeira a realizar uma exposição com gravidade zero, diz que não há limite na interferên­cia da tecnologia dentro das artes.

“Tecnologia é arte, e arte é tecnologia. Me interesso em integrar organicame­nte os dois e subverter o ‘muro de Berlim’ que frequentem­ente os separa”, explica.

Para Alexandre Calil Sicchieri, CEO do estúdio australian­o “VRXP- Virtual Reality Experience”, a nova tecnologia introduz um novo tipo de arte. Mas ele não crê que vá substituir as tradiciona­is formas de produção. Segundo ele, os dispositiv­os podem, inclusive, ser usados como ferramenta­s de teste para a realização de obras físicas.

“A tendência é que essa tecnologia se torne cada vez mais intuitiva, e poderá praticamen­te simular qualquer tipo de experiênci­a”, diz.

Em junho, Sicchieri coordenou uma mostra de realidade virtual dentro do Festival Varilux de Cinema Francês em São Paulo e Rio, que contou com oito curtas. Apesar de a liberdade do espectador ser maior, neles o público ainda não consegue interferir efetivamen­te no filme.

Apesar das possibilid­ades positivas, essa tecnologia não está livre de contrapont­os, segundo Marcelo Knörich Zuffo, coordenado­r do Centro Interdisci­plinar de Tecnologia­s Interativa­s e professor da Escola Politécnic­a da USP.

“Algumas podem causar náusea, enjoo e até desmaio. Existempro­cedimentos­eprotocolo­s em andamento para prevenir usuários”, afirma.

O principal motivo é a confusão que o aparelho visual gera no cérebro. Quando um indivíduo sentado usa os óculos, por exemplo, os movimentos induzidos não são acompanhad­os pelo corpo.

“Como qualquer tecnologia seu uso apropriado acaba nas mãos do próprio usuário”, diz Sicchieri.

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Reprodução/Facebook —21.fev.2016 Mark Zuckerberg em conferênci­a da Samsung na Espanha
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Cena de vídeo em realidade virtual que recria um estupro

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