ANÁLISE Elenco é maduro ao abrir diálogo em polêmica de apropriação
FOLHA
A produção criativa e a vida da poeta Stela do Patrocínio constituem o tema do espetáculo “Entrevista com Stela do Patrocínio”, dirigido por Georgette Fadel e Lincoln Antonio, também integrantes do elenco, ao lado de Juliana Amaral.
Stela (1941-1997) foi uma mulhernegraepobreabandonada pela família e internada na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, onde viveu por 30 anos.
A peça, em circuito há 12 anos, voltou ao cartaz em julho na Biblioteca Mário de Andrade e provocou intensa discussão sobre limitesentrearepresentaçãode pessoas brancas sobre conteúdos, manifestações e personagens negros.
Georgette, do ponto de vistaestético,jamaisencarnaStela,esimapresentade forma distanciada suas experiências sobre o mundo.
O percurso do espetáculo, no entanto, não o blindou da manifestação de espectadores negros, em 10 de julho, questionando o fato de Georgette ser uma mulher branca a interpretar uma poeta negra.
A polêmica se orientou para além da realização estética, e a atriz acolheu a intervenção, posicionando-se a favor do diálogo e do avanço no debate sobre a ausência de corpos negrosnospúlpitosartísticos.
Georgette anunciou que a peça se tornara, a partir de então, um fórum aberto e disse ser urgente repensar o formato da produção teatral em São Paulo, uma cidade em que centros culturais ainda permanecem frequentados, majoritariamente, por brancos.
Artistas negros deram seu parecer sobre o contexto atual das artes cênicas. Também surgiram falas de recusa ao avanço dos movimentos de negritude nas artes, argumentos afirmando que muitas pautas negras são exageradas e injustas para com os demais setores sociais.
Apesar disso, o passo dado por Georgette, Lincoln e Juliana a partir da intervenção do público negro, força motriz desse episódio, gerou um convite à reflexão sobre a representatividade racial que presentifica Stela do Patrocínio e seu vital legado histórico e poético.