FLIP 2017 Debate sobre racismo com Lázaro Ramos enche a Casa Folha
No encontro, o ator e a historiadora Lilia Schwarcz afirmaram que preconceito deve ser problema de todos
Emmesasobrea escravidão, comparação com Brasil atual fez ecoar na Igreja da Matriz gritos de ‘fora, Temer’
A primeira pessoa chegou na fila às 6h —o debate começava só às 10h. A mesa sobre a questão racial brasileira que reuniu o ator e escritor Lázaro Ramos e a historiadora Lilia Moritz Schwarcz na manhã deste sábado (29), na Casa Folha, em Paraty, lotou o espaço da rua do Comércio, e muitas pessoas assistiram do lado de fora, onde se formou uma longa fila.
Na mesa, mediada pelo jornalista da Folha Maurício Meireles, os dois disseram que o racismo precisa ser encaradocomoumproblemade todos no Brasil, não só dos negros, seu principal alvo. Foram aplaudidos efusivamente em vários momentos.
“Temos de sair deste lugar do Lima [Barreto, homenageado desta Flip], de falar de preconceito a partir do outro, do negro”, afirmou Lázaro, que lançou há pouco “Na Minha Pele” (Objetiva), em que costura memórias e reflexões em torno do racismo. “Precisamos pensar em quando fomos cúmplices, em quando causamos dor. O meu foco é onde a gente se aproxima, o que cada um pode fazer.”
Schwarcz, autora da recente biografia “Lima Barreto – Triste Visionário” (Companhia das Letras), lembrou a visão do autor sobre a libertação dos escravos. “Lima, descendente de escravizadas pelos dois lados, dizia que a ver- dadeira abolição não seria feita pela lei [Áurea, 1888], mas pela educação e pelo afeto.” E emendou: “Se o tema não virar um problema nacional, não vai se resolver. O pior espaço é o do silêncio, do não dito. Quando a gente fala, pode se entender”.
Para Lázaro, não deve haver cartilha para abordar o racismo. “Não posso dar uma resposta [sobre a melhor forma de tratar o tema]. Estou tentando através da arte, por meio do livro que escrevi. O racional não dá conta sozinho [de peitar o racismo]. Vamos precisar de outras armas, da poesia, do cinema.” REPARAÇÃO O racismo também foi tema de outra mesa disputada neste sábado. Nenhum assento para o público pagante da Flip na Igreja da Matriz ficou vazio no encontro entre a romancista cearense Ana Miranda, cujas obras dialogam com fatos e personagens da nossa história, e o historiador João José Reis, referência mundial em escravidão.
O debate, conduzido por Lilia Moritz Schwarcz, tratou do território fluido entre ficção e não ficção no tratamento da escravatura brasileira e da vida de escravos e negros alforriados do país. Ao fim, ecoaram pela primeira vez dentro da Igreja da Matriz os gritos de “fora, Temer”. TEATRO A proximidade entre a literatura e o teatro, seja na influência da oralidade na linguagem escrita, seja na facilidade com que um livro pode ser traduzido para os palcos,foiumdostemasdedebate entre Fernanda Torres e Cristovão Tezza na Casa Folha, em conversa mediada pelo editor-executivo do jornal, Sérgio Dávila.
A atriz e escritora e o autor catarinense, que já escreveu peças, atuou e foi até iluminador de palco, trataram da influência da oralidade na linguagem escrita e da facilidade com que um livro pode ser traduzido para o teatro, caso da obra “O Filho Eterno”, de Tezza.
“Meu trabalho com [a adaptação para os palcos do livro] ‘A Casa dos Budas Ditosos’ abriu a questão da escrita para mim, dessa voz interior que ela tem. A literatura é o diálogo interior que o ator tem quando está em cena”, disse Torres.
Já Tezza afirmou que sua literatura tem um tanto da oralidade herdada do teatro. FEIRA DE IDEIAS O colunista da Folha Luiz Felipe Pondé participou de debate na Casa Folha centradoemseunovolivro,“Marketing Existencial - A Produção de Bens de Significado no Mundo Contemporâneo”, e mediado por Lucas Neves editor-adjunto da “Ilustríssima”.
Questionado sobre como se sentia com relação a esta edição inclusiva e representativa da Flip, Pondé afirmou que, ao mesmo tempo em que a Flip é uma feira literária, é também uma feira de marketing, onde se vendem ideias.
“Em meio a esse comércio de ideias, não existe motivo para não trazer pessoas que têm ideias para vender, mas não têm oportunidade para isso. Não faz sentido se existir quem queira comprar.” (LUCAS NEVES, FERNANDA MENA E AMANDA RIBEIRO MARQUES)