Folha de S.Paulo

Eu tenho algo a ver com isso?

- MARCIUS MELHEM COLUNISTAS DA SEMANA: segunda: Gregorio Duvivier, terça: José Simão, quarta: Reinaldo Figueiredo, quinta: José Simão, sexta: Ricardo Araújo Pereira, sábado: José Simão

A gente sabe que não tá fácil. Violência, crise econômica e o Flamengo que não deslancha deixam nossos nervos à flor da pele.

Então, depois de muito refletir, elaborei um manual de como agir frente às questões da vida.

Regra número um: diante de qualquer questão sempre se pergunte “eu tenho algo a ver com isso?” Fim do manual.

Sei que à primeira vista parece complexo. Mas com exemplos fica mais fácil.

Situação 1: meu vizinho é gay e namora outro homem.

Pergunta: “eu tenho algo a ver com isso?” Resposta: não. Consequênc­ia: eles seguem a vida deles, e eu a minha.

Situação 2: o hospital público do meu bairro está abandonado.

Pergunta: “eu tenho algo a ver com isso?”

Resposta: sim. Se o bem é público, édetodos.

Consequênc­ia: eu me junto a outras pessoas, incluindo meu vizinho gay e seu namorado, e vou cobrar do poder público que a situação melhore.

Situação 3: eu sou evangélico e tenho um vizinho que é do candomblé, religião de que eu não gosto.

Pergunta: “eu tenho algo a ver com isso?” Resposta: não. Consequênc­ia: eu continuo com a minha religião e meu vizinho com a dele.

Situação 4: meu bairro está com assaltos frequentes.

Pergunta: “eu tenho algo a ver com isso?”

Resposta: sim. O Governo estadual tem obrigação de prover segurança à população.

Consequênc­ia: me junto a meu vizinho gay, seu namorado, e meu outro vizinho do candomblé, vamos até a delegacia do bairro e ao batalhão da PM responsáve­is pela área e cobramos um plano de ação.

Situação 5: tenho uma vizinha que planta maconha e fuma.

Pergunta: “eu tenho algo a ver com isso?” Resposta: não. Consequênc­ia: ela continua se arriscando com essa droga ilegal, e eu continuo saudável com meu cigarro e meu uísque legalizado­s.

Situação 6: não estou satisfeito com os representa­ntes do meu Estado no Congresso Nacional.

Pergunta: “eu tenho algo a ver com isso?”

Resposta: sim. Sou eleitor e ajudei acolocá-loslá.

Consequênc­ia: estudo melhor quem são os candidatos, depois me uno a meu vizinho gay, seu namorado, meu outro vizinho do candomblé, e minha vizinha maconheira. Juntos tentamos votar com mais consciênci­a.

A questão no fundo é que 90% dos problemas do mundo não existiriam se as pessoas entendesse­m que se meter na vida do outro não melhora a nossa vida.

Elaborei um manual de como agir frente às questões da vida e agora divido o conteúdo com você

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Débora Gonzales

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