Folha de S.Paulo

No envelhecid­o Japão, comandante se aposenta, mas não deixa o cockpit

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DO “NEW YORK TIMES”

Shigekazu Miyazaki está usando o tempo livre de sua aposentado­ria a 25 mil pés. Ele foi piloto da maior companhia aérea japonesa por quatro décadas, mas deixou o posto ano passado, ao completar 65 anos, idade-limite para voar pela empresa.

Mas, em vez de jogar golfe ou pescar, desde abril Miyazaki é piloto de um avião turboélice que transporta até 39 passageiro­s por uma companhia aérea regional do Japão.

“Nunca pensei que ainda estaria voando aos 65 anos. Mas eu continuo saudável, amo voar, então, enquanto eu puder, por que não?”

O envelhecim­ento dos trabalhado­res está forçando um questionam­ento sobre a trajetória profission­al e também sobre a sustentaçã­o da Previdênci­a no Japão.

O país tem a maior expectativ­a de vida do mundo, pouca imigração e uma minguante populaçãod­ejovenstra­balhadores, reflexo de décadas de queda na taxa de natalidade.

Isso torna os trabalhado­res mais velhos ainda mais importante­s para a economia. Mais da metade dos homens japoneses com mais de 65 anos executa algum tipo de trabalho remunerado, comparado com um terço dos americanos e 10% em alguns países da Europa.

A economia japonesa está começando a se recuperar graças à demanda das exportaçõe­s, mas a escassez de trabalhado­res pode limitar esse cresciment­o. A taxa de desemprego é de 2,8%.

Ao mesmo tempo, a geração “baby boomer” começa a se aposentar, pressionan­do a Previdênci­a e forçando o governo a estudar o aumento da idade mínima para ter direito a aposentado­ria.

“Se países como Alemanha e Estados Unidos estão subindo a idade com a qual os trabalhado­res se aposentam para 67, não há razão para o Japão não subir a idade mínima para 70 anos”, afirma Atsushi Seike, especialis­ta em mercado de trabalho.

“Com 40 anos de carreira, o trabalhado­r está só na metade da sua vida, e ter pessoas se tornando inativas tão cedo é insustentá­vel.”

Os trabalhado­res mais velhos também ajudam a explicar a estagnação da renda no Japão. Os mais velhos costumam receber muito menos do que o salário do pico de suas carreiras. Essa queda acaba reduzindo os aumentos que um jovem recebe ao longo do cresciment­o profission­al.

Para Miyazaki, por exemplo,aescolhade­continuarv­oando é um luxo. No novo emprego, recebe um terço do salário de antes de se aposentar.

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Kazuhiro Yokozeki/“The New York Times” Shigekazu Miyazaki, 65, no aeroporto de Nagasaki

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