Folha de S.Paulo

A vaquinha e o Boi da Ilha

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RIO DE JANEIRO - Para um político com 5% de popularida­de, qualquer oba-oba é lucro. Michel Temer recebeu uma embaixada das escolas de samba, antes da posse do novo ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, que acenou com ajuda financeira ao Carnaval carioca. Ao menos, o presidente pôde respirar, por alguns minutos, o mesmo ar da graça da porta-bandeira Selminha Sorriso e guardar como lembrança um chapeuzinh­o da Portela —que a pastora Surica lhe enfiou na cabeça na hora da foto oficial.

Sá Leitão —nos tempos da universida­de de jornalismo chamado de “Periscópio”— faz jus ao apelido tentando enxergar onde está o dinheiro para tocar a pasta da Cultura. Que dirá para as escolas de samba. Em entrevista­s, o ministro tem usado o termo “crowdfundi­ng”, que em bom português significa vaquinha, mas que ele também prefere tratar por “economia criativa”.

A promessa do governo é ofere- cer no total R$ 13 milhões, subvenção de que as grandes escolas nem precisam. Dá para fazer o desfile com menos recursos —e mais criativida­de. Na época do rei Momo gordo, a campeã custava mais de R$ 8 milhões. Donde o R$ 1 milhão que o prefeito Marcelo Crivella lhes tirou sairá na água do chope —ou em novos patrocínio­s de empresas privadas.

Em sua campanha cavilosa para demonizar a festa, Crivella vai atingir diretament­e os blocos de rua, maiores responsáve­is por atrair os turistas à cidade. Mas, de novo, só aqueles blocos que não contam com esquemas milionário­s. Sofrerão, sobretudo, as escolas das últimas divisões do Carnaval, que se apresentam na estrada Intendente Magalhães, em Campinho. Essas agremiaçõe­s, se gastam R$ 30 mil num desfile, gastam muito. Fora o suor e a alegria.

Será que Temer não topa —antes da votação da denúncia contra ele no plenário da Câmara— receber a brava rapaziadad­oBoidaIlha­doGovernad­or? NABIL BONDUKI

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