Folha de S.Paulo

Temer e os envergonha­dos

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BRASÍLIA - As enquetes realizadas no Congresso nunca pareceram tão inúteis. Na véspera do dia decisivo, ainda é difícil cravar o placar da denúncia contra Michel Temer. Embora a sessão seja aberta, cerca de 40% dos deputados se recusam a dizer como vão votar. O número de parlamenta­res que escondem o jogo varia de 204 a 230 nas pesquisas feitas pelos três grandes jornais.

Isso não significa que o resultado seja imprevisív­el. A oposição reconhece que só um milagre produzirá os 342 votos necessário­s para afastar o presidente. O problema é que poucos deputados estão dispostos a declarar publicamen­te o apoio a Temer. Ele aposta na bancada dos envergonha­dos, que prefere se omitir nas enquetes e, se possível, na sessão.

Essa turma torce para que a denúncia seja votada por um plenário esvaziado. Assim, suas excelência­s reduziriam o desgaste de se associar a um campeão de rejeição. Segundo o Ibope, a aprovação de Temer encolheu a 5%. Oito em cada dez brasilei- ros defendem que a Câmara autorize o Supremo a processá-lo.

Apesar da impopulari­dade, Temer se segura porque ainda parece útil ao mercado e ao sindicato dos deputados. Nos últimos dois meses, ele reforçou o discurso pró-reformas e torrou mais de R$ 4 bilhões em emendas. Ao mesmo tempo, acelerou a distribuiç­ão de cargos e benesses em troca de apoio contra a denúncia.

O pacote inclui a proteção a outros políticos em apuros, como o senador Aécio Neves. O tucano deixou de ser visto em restaurant­es, mas foi homenagead­o no sábado com um jantar no Jaburu. Nesta segunda, ele virou alvo de mais um pedido de prisão.

Enquanto espera os envergonha­dos, Temer se contenta com o apoio dos que não têm nenhuma vergonha. Ele tem sido elogiado por tipos folclórico­s como Wladimir Costa, que o define como o “maior estadista do Brasil”. No fim de semana, o deputado apareceu com o nome do presidente tatuado no ombro. Essa nem os bajuladore­s do palácio ousariam imitar.

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