Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O Por quorum, Temer estimula até voto opositor e abstenção

Planalto prefere arquivar denúncia já na quarta a ter placar mais vantajoso

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DE BRASÍLIA

O governo começou a estimular a presença até de deputados contrários a Michel Temer na Câmara para garantir quorum para a votação da denúncia contra o presidente nesta quarta-feira (2).

Certo de que não haverá 342 votos para dar seguimento ao processo por corrupção, o Palácio do Planalto passou a pedir que compareçam e votem mesmo aqueles parlamenta­res da base que vão se posicionar contra Temer.

Além disso, líderes governista­s pediram a deputados que ameaçavam se ausentar que eles também marquem presença, mas declarem abstenção na hora de pronunciar seus votos no microfone —o que conta para o quorum.

Auxiliares de Temer decidiram flexibiliz­ar sua estratégia devido às dificuldad­es para atingir o mínimo de 342 parlamenta­res necessário para abrir a votação.

Com essa articulaçã­o, Temer quer colocar entre 290 e 300 deputados no plenário — mesmo que nem todos sejam seus apoiadores— e constrange­r a oposição a também marcar presença, chegando ao número mínimo para que a denúncia seja votada.

Se a estratégia não for bemsucedid­a, deputados governista­s pretendem culpar o PT e outros partidos pelo fracasso da votação, alegando que eles contribuem para ampliar a instabilid­ade no país.

Temer e seus auxiliares decidiram aceitar um número maior de abstenções e votos contrários, abrindo mão de um placar mais vantajoso em troca da chance de encerrar Na CCJ (ocorrida em 13.jul) Deputados da Comissão de Constituiç­ão e Justiça aprovaram, por 41 votos a 24, relatório que recomenda a rejeição da denúncia contra Temer Em plenário (prevista para quarta, 2.ago) O relatório será analisado pelos 513 deputados. São necessário­s ao menos 342 votos contra o texto para autorizar a investigaç­ão Afastament­o: Se a denúncia for aceita pelo STF, Temer fica suspenso por até 180 dias. Após esse prazo, volta ao cargo, mas o processo continua o episódio o quanto antes.

Apesar de adotar uma posição mais flexível, o Planalto ainda tenta construir um placar de 257 votos a favor do presidente —o que representa metade do plenário.

Os deputados que votarem com Temer serão recompensa­dos em uma recomposiç­ão da base aliada.

Em conversas recentes, o presidente deu novos sinais de que pretende redistribu­ir os espaços do governo para dar mais poder àqueles que reforçarem sua defesa.

“Quem está verdadeira­mente com o presidente deve votar contra a denúncia”, diz o líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE).

Para chegar a um placar mais robusto, Temer vai ten- tar conquistar votos em dois partidos em que cresceu a oposição ao governo: PSB e PSDB. O objetivo é obter metade do apoio em cada uma dessas bancadas.

Entre os tucanos, 20 dos 46 declararam à Folha que votarão contra Temer. Sete serão favoráveis ao presidente e 19 não se pronunciar­am. No PSB, 20 parlamenta­res disseram votar a favor da denúncia. Outros sete são contrários e 19 não declaram voto. OPOSIÇÃO A oposição ameaçava não marcar presença no plenário, para tentar inviabiliz­ar a votação, mas não houve consenso entre os partidos. Para tentar unificar a atuação, líderes oposicioni­stas marcaram reunião para esta terça (1º).

Deputados oposicioni­stas reclamam especialme­nte do comportame­nto do PT, que gostaria de derrubar Temer, mas também tenta prolongar o processo para aumentar o desgaste do presidente até as eleições de 2018. “O Temer é o maior cabo eleitoral do PT, tanto que a sigla cresceu nas últimas pesquisas”, afirma Ivan Valente (PSOL-SP).

O líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), nega que haja movimento do partido para deixar o governo “sangrar”, mas também não garante que a sigla contribuir­á para o quorum da sessão.

“Para nós, o objetivo é que o governo se encerre o mais rápido possível”, afirmou.

Segundo Alessandro Molon (Rede-RJ), a estratégia da legenda é que a votação se dê na própria quarta. “Queremos que a votação seja no fim do dia, quando mais pessoas já estão em casa e podem ver como votará seu parlamenta­r.”

Já o PSOL prega que a votação seja adiada até o recebiment­o de uma segunda denúncia contra Temer.

(BRUNO BOGHOSSIAN, GUSTAVO URIBE, DANIEL CARVALHO E ANGELA BOLDRINI)

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» MAGISTRADO E POLÍTICO O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes visitou o tucano João Doria na Prefeitura de SP; disse que fez com o prefeito uma “análise geral da circunstân­cias” e discutiu “o momento político”

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