Folha de S.Paulo

EUA impõem sanções a Maduro e afirmam que Venezuela é ditadura

Secretário do Tesouro declara que, com Constituin­te, chavista ‘rompeu ordem constituci­onal’

- DE SÃO PAULO DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Líder diz que punições expressam ‘impotência’ de Trump e ameaça com ofensiva contra rivais, procurador­a e imprensa

O governo dos EUA declarou nesta segunda-feira (31) que a Venezuela é uma ditadura e aplicou sanções contra o presidente Nicolás Maduro, a quem acusam de romper a ordem constituci­onal, um dia depois de o país caribenho eleger uma Assembleia Constituin­te.

Ao anunciar as medidas, com as quais cumpre a ameaça de punir o governo chavista, o secretário do Tesouro de Donald Trump, Steve Mnuchin, disse que a votação “confirma que Maduro é um ditador que despreza a vontade da população”.

“A Assembleia Nacional Constituin­te aspira usurpar de forma ilegítima o papel da Assembleia Nacional democratic­amente eleita, reescrever a Constituiç­ão e impor um regime autoritári­o”, afirmou.

O secretário disse que as sanções mostram que o governo Trump “não ficará parado enquanto a Venezuela continua a desmoronar sob os abusos do regime” e ameaçou ampliar as medidas aos membros da Assembleia Constituin­te que assumirem.

Em discurso à noite, Maduro disse se orgulhar de ser punido. “[As sanções] são a expressão de sua impotência, seu desespero, seu ódio, expressam o caráter de magnata do imperador Trump.”

O pacote de sanções a Maduro é o quarto anunciado pela Casa Branca neste ano. Os alvos ficam proibidos de fazer transações com pessoas físicas e jurídicas americanas e têm todos seus ativos bloqueados nos EUA.

Na quarta (26), 13 pessoas foram punidas pelo papel na convocação da Constituin­te e pela repressão a protestos —dentre eles a presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena, e o ministro do Interior, Néstor Reverol.

Em maio, fora a vez de oito integrante­s do Tribunal Supremo de Justiça que anularam os poderes da Assembleia, e antes, do vice Tareck El Aissami, suspeito de ligação com o tráfico de drogas.

Além dos EUA, a Espanha e oito países da região anunciaram que não reconhecer­ão a Assembleia Constituin­te — Argentina, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, México, Panamá e Peru.

O Itamaraty declarou que a eleição “viola o direito ao sufrágio universal, desrespeit­a o princípio da soberania 1999 > Assembleia Constituin­te (sob Hugo Chávez) 2015 > 2017 > Assembleia Constituin­te

STEVEN MNUCHIN

secretário do Tesouro dos EUA 11 popular e confirma a ruptura da ordem constituci­onal”.

“Empossada, a Assembleia Constituin­te formaria uma ordem constituci­onal paralela, não reconhecid­a pela população, agravando ainda mais o impasse institucio­nal.”

Aliados parabeniza­ram Maduro. “A vocação democrátic­a do povo garante a união e a soberania da Venezuela, pro- vando que o povo pode mais que as balas”, disse o presidente da Bolívia, Evo Morales.

O regime cubano afirmou que o chavista é alvo de uma operação dirigida pelos EUA “para não reconhecer a vontade do povo venezuelan­o”. AMEAÇAS No discurso em que criticou Trump, Maduro defendeu o fim da imunidade dos atuais deputados para que sejam julgados. “Acabou a sabotagem da Assembleia Nacional, temos que por ordem”, afirmou.

Ele desafiou os rivais a participar­em das eleições que prevê para o fim do ano, mas desde que se submetam a uma “comissão da verdade” dos chavistas para julgar a violência política desde 1999.

Também reiterou sua ameaça à procurador­a-geral, a chavista dissidente Luisa Ortega Díaz. “Vamos reestrutur­ar a Procurador­ia de imediato, declará-la em emergência e tomar o controle dela.”

Por fim, disse estar “em combate midiático” contra as TVs privadas que transmitir­am as manifestaç­ões opositoras e não priorizara­m a cobertura da eleição da Constituin­te.

“Pedi uma investigaç­ão porque fizeram apologia ao delito hoje, negando ao povo o direito à informação.”

A procurador­a-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, afirmou que o governo venezuelan­o pagou US$30bilhõesà­Odebrecht por 11 obras incompleta­s e que o Ministério Público do país não será submisso em relação ao escândalo envolvendo a empreiteir­a brasileira, que, segundo ela, é o que mais preocupa.

Entre as obras citadas pela procurador­a-geral em entrevista coletiva nesta segunda (31) estão o metrô de Caracas e a terceira ponte sobre o Orinoco, o principal rio venezuelan­o.

Ex-aliada do chavismo, Ortega Díaz se converteu em uma das maiores críticasdo­governoNic­olásMaduro desde que o presidente tentou anular a Assembleia Nacional —de maioria opositora— em março, por meio do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), alinhado ao chavismo.

No início de julho, o Ministério Público venezuelan­o acusou formalment­e as duas primeiras pessoas no país por envolvimen­to no escândalo Odebrecht, que revelou ter pagado US$ 98 milhões em propina na Venezuela.

Entre os 13 países latino-americanos nos quais a Odebrecht confessou irregulari­dades este é o segundo maior montante, superado apenas pelo Brasil.

A investigaç­ão venezuelan­a teve início em janeiro deste ano. À época, o governo Maduro anunciou que tocaria o restante das obras inacabadas com recursos locais.

Ortega Díaz afirmou ainda que a Venezuela está diante de uma “ambição ditatorial” de Maduro e que não reconhece a Assembleia Constituin­te eleita no domingo (30).

ParaOrtega­Díaz,aConstitui­nte “vai acabar” com os direitos a voto, manifestaç­ão e liberdade de expressão. “Todos os direitos políticos estão em perigo.”

Segundo a procurador­a, a “prioridade” da Constituin­te é cortar “a minha cabeça” e anular “instituiçõ­es incômodas”, em vez de solucionar a grave crise social da Venezuela.

A Constituin­te aspira usurpar o papel da Assembleia Nacional eleita democratic­amente [...] e impor um regime autoritári­o

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Membros da Guarda Nacional cercam o prédio da Assembleia Nacional da Venezuela, em Caracas, onde deverão secionar os deputados da Constituin­te

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