Folha de S.Paulo

‘Brexit’ acabará com livre trânsito, diz Londres

- DIOGO BERCITO

Porta-voz reafirma posição, mas ministro de May fala em evitar restrição a cidadãos da UE

Após declaraçõe­s controvers­as dentro do próprio governo, o porta-voz de Theresa May, primeira-ministra britânica, disse nesta segunda (31) que a liberdade de movimento entre Reino Unido e União Europeia vai ser interrompi­da em março de 2019.

A afirmação em si não é nova e condiz com os planos oficiais para o “brexit”, a saída britânica da UE. Mas o ministro britânico das Finanças, Philip Hammond, tinha dito na sexta-feira (28) que não haveria mudanças imediatas nas regras de migração.

Hammond disse que o processo incluiria “diversos arranjos, permanecen­do bastante similares a como eram um dia antes de sairmos”. A declaração do ministro levou a alguma confusão e evidenciou as rixas no gabinete.

O porta-voz de May discordou de Hammond e disse ser “equivocado” sugerir a manutenção da livre circulação. Hoje, europeus e britânicos podem transitar livremente entre os território­s, o que inclui brasileiro­s com dupla cidadania europeia, por exemplo, a italiana. Não há uma estimativa oficial do número.

Hammond já havia sido questionad­o pelo ministro de Comércio Exterior, Liam Fox, que afirmou ao jornal “Sunday Times” que manter a livre circulação não respeitari­a o voto popular do “brexit”.

As disputas internas no gabinete de May têm se intensific­ado desde que ela perdeu a maioria parlamenta­r nas eleições de junho.

O debate foi aquecido durante suas férias, nas últimas semanas, com Hammond insistindo em um modelo menos drástico de “brexit”.

Ele prefere que não haja uma interrupçã­o brusca nas relações com a UE —outros membros do gabinete, como a ministra do Interior, Amber Rudd, concordam com Hammond. Há também debates sobre quais serão os laços comerciais com o bloco econômico europeu, que compra atualmente quase metade das exportaçõe­s do Reino Unido.

A migração foi um dos principais temas durante os debates do “brexit”, aprovado por voto popular em junho de 2016. As negociaçõe­s devem durar dois anos, com a saída do Reino Unido prevista para março de 2019.

Um dos assuntos mais complexos envolve os direitos dos europeus no Reino Unido e aqueles dos britânicos na União Europeia.

Está em debate, por exemplo, se 3 milhões de europeus poderão trabalhar ali —mais uma vez, afetando os brasileiro­s que têm a dupla cidadania de um país da UE.

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