Folha de S.Paulo

ANÁLISE Expulsar diplomatas americanos era a resposta possível de Putin

- IGOR GIELOW

Longe de ser uma resposta à altura do estrago potencial aos interesses do setor energético russo na Europa, a retaliação de Moscou contra as novas sanções americanas inaugura um novo capítulo na disputa política entre o governo de Vladimir Putin e o Ocidente.

Do ponto de vista econômico, havia pouco ou nada que a Rússia pudesse fazer.

O trabalho aqui ficará para a União Europeia, incomodada por ver empresas de seus países sob ameaça de sanções por terem negócios com gigantes russos de gás e petróleo, que são vitais para a segurança energética do continente.

A limitação ao número de pessoal a serviço do Departamen­to de Estado na Rússia se insere em outra disputa.

Desde o fim da Guerra Fria, os EUA incentivar­am com financiame­nto e apoio ONGs e entidades na Rússia e em países da antiga esfera de influência soviética.

Embora neguem, os americanos estiveram ativamente envolvidos nas “revoluções coloridas” que derrubaram regimes pró-Moscou nos anos 2000 em países como a Geórgia e a Ucrânia —neste último, houve uma contrarrev­olução, cuja deposição em 2014 levou à guerra civil que segue congelada no país.

Na Rússia, leis progressiv­amente mais duras limitaram o trabalho das ONGs estrangeir­as. Para a oposição a Putin, isso foi apenas autoritari­smo, até porque nunca houve influência real delas na política russa, e em média elas tratavam de temas espinhosos para o Kremlin, como direitos humanos ou liberdade de expressão.

Um analista russo que trabalha para uma das entidades remanescen­tes contou recentemen­te à Folha que recebe visitas periódicas de oficiais de forças de segurança.

Com a redução de pessoal americano a menos da metade da força de trabalho atual, empatando com o número a serviço do Kremlin nos EUA, Putin deu a resposta possível às sanções.

De quebra, obrigará uma reorganiza­ção que efetivamen­te limitará as capacidade­s operaciona­is americanas no seu país, já que não será possível dispensar apenas os trabalhado­res russos na Embaixada e consulados —exceto que diplomatas comecem a dirigir seus carros e trabalhem como recepcioni­stas.

O objetivo, além da esgrima política, é reduzir a atividade de espiões, que tradiciona­lmente operam sob o manto da diplomacia no mundo todo.

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