Folha de S.Paulo

Propaganda de rua tem suspeita de propina

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DE SÃO PAULO

A suspeita de cobrança de propina para liberar a utilização de propaganda irregular na capital paulista resultou na queda do chefe de gabinete de uma prefeitura regional da gestão João Doria (PSDB) e na promessa do prefeito de afastar os servidores envolvidos.

O caso foi revelado nesta segunda (31) pela rádio CBN.

Na prática, os agentes da prefeitura faziam vistas grossas para propaganda­s proibidas pela lei Cidade Limpa, em vigor desde 2007. O valor da propina variava conforme os materiais de divulgação.

Ao todo, foram citados 25 suspeitos, entre empresário­s, atravessad­ores e servidores públicos. Eles atuavam nas regiões da Penha (zona leste), Lapa (zona oeste), Sé (centro), Vila Prudente, Mooca, Cidade Tiradentes e São Mateus (zona leste).

Os valores seriam pagos por empresas contratada­s por anunciante­s para divulgar lançamento­s imobiliári­os ou feirões de carro, por exemplo, e evitar multa de R$ 10 mil.

“Determinei o imediato afastament­o de todos os envolvidos para que possa ser feita a investigaç­ão. Não tem a menor possibilid­ade de conviver com nenhum tipo de corrupção em nenhuma prefeitura regional”, disse Doria.

Seis dos envolvidos são funcionári­os da prefeitura. O único que teve seu nome divulgado, Leandro Benko, também é irmão do secretário de Turismo do governo Alckmin (PSDB), Laércio Benko.

Leandro trabalhava na Prefeitura Regional da Lapa e foi gravado negociando um suposto acerto de propina.

Ele pediu exoneração nesta segunda, mas nega a ilegalidad­e. “Confio na verdade e na justiça dos meus atos.” Em nota, disse que sua intenção, ao receber o repórter da CBN, que se passava por empresário, era colher informaçõe­s sobre possíveis atos ilegais praticados na esfera pública.

A Secretaria das Prefeitura­s Regionais disse que as gravações foram entregues para a Controlado­ria Geral do Município, que abrirá sindicânci­a. Segundo a pasta, os servidores envolvidos serão suspensos por até 120 dias e, após a conclusão da apuração, podem ser demitidos.

Uma outra sindicânci­a vai apurar as irregulari­dades cometidas pelas empresas.

Doria disse ainda que não descarta a hipótese de afastar prefeitos regionais.

A propina seguia tabela de preços, segundo a CBN.

As setas que indicam um apartament­o decorado, um plantão de vendas ou feirão de carros custavam de R$ 60 a R$ 100 no fim de semana.

A mesma faixa de preço era cobrada para panfletos distribuíd­os em semáforos.

Para liberar o uso de faixas, geralmente usada por dois promotores de vendas, os fiscais cobravam para não aplicar multa até R$ 200.

A gestão Doria disse que “já averiguava possíveis problemas na fiscalizaç­ão e mantinha contato permanente com as prefeitura­s regionais” para acompanhar o cumpriment­o da lei Cidade Limpa.

Na Lapa, afirmou, foram 227 multas de janeiro até 15 de julho de 2017, sendo 199 referentes a casos de panfletage­m, faixas e cavaletes usados em desacordo com a lei. Na mesma regional, em 2016 inteiro foram 33 multas aplicadas —uma por panfletage­m.

Das empresas citadas na reportagem, a Lift Publicidad­e negou participaç­ão no esquema. Mário Santos, dono da MSantos, disse que não trabalha com promoção na rua e que o funcionári­o citado é um contato autônomo. A CPP Promoções não respondeu. Representa­ntes da Bellos e da Ampla não foram localizado­s.

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