Folha de S.Paulo

Por que gostamos de quem nos faz rir

- TERÇA-FEIRA, 1° DE AGOSTO DE 2017 SUZANA HERCULANO-HOUZEL

TER OPORTUNIDA­DES para rir ao longo do dia pode parecer um bônus, uma pausa bem-vinda no meio de um dia de afazeres. Mas um corpo crescente de evidências indica que o que leva ao riso faz muito mais do que divertir: reduz o estresse, melhora a capacidade do corpo de combater infecções e ainda promove laços afetivos entre todos os que compartilh­am a risada.

Um estudo finlandês publicado no “Journal of Neuroscien­ce” mediu a liberação de opioides pelo cérebro de voluntário­s após eles terem passado meia hora assistindo, com dois amigos próximos, a cenas de comédia. Os dados foram comparados aos níveis da substância nos mesmos voluntário­s após meia hora Por que às vezes quatro horas de sono podem nos fazer descansar mais do que uma noite de sono de dez horas? Uma noite bem dormida depende da quantidade de horas e da qualidade. Se a pessoa dormir poucas horas mas passar por todos os estágios do sono, vai acordar bem. A quantidade ideal varia, mas em geral é de 7h a 9h. de silêncio, sozinhos em um quarto.

Os opioides mais famosos são morfina e heroína, conhecidos pelas sensações de analgesia, relaxament­o e prazer —e que tão rapidament­e levam ao vício, se intensos e frequentes demais. Se tais substância­s funcionam, é justamente porque existem opioides internos, produzidos pelo próprio cérebro, e que provavelme­nte levam a efeitos semelhante­s, ainda que mais brandos.

Hoje se sabe que o efeito placebo —o bem-estar e redução da dor que acontecem só com a crença que se recebeu tratamento (quando o remédio era só água, farinha ou glóbulos de homeopatia sem princípio ativo)— depende da capacidade do cérebro de produzir seus próprios opioides.

Ser acariciado ou abraçado por quem se gosta é uma maneira certeira de fazer o cérebro liberar opioides —mas só tem efeito sobre as duas pessoas envolvidas. Segundo o estudo finlandês, rir em grupo também funciona e, aparenteme­nte, surte efeitos no cérebro de todos os envolvidos: a liberação de opioides endógenos aumenta nas partes do cérebro que levam ao bem-estar e ao prazer, e, junto a isso, vêm também sensações de calma e paz interna. Tenho pesadelos todos os dias. Já tentei de tudo para corrigir. Vou começar a usar o CPAP [máscara para tratar apneia]. O que pode ser? O pesadelo é considerad­o um distúrbio do sono e pode ter causa biológica (um problema de saúde, por exemplo) ou psicológic­a. Se a pessoa recebeu a recomendaç­ão de usar o CPAP, é provável que ela tenha apneia do sono, que pode causar sufocament­o. Nesse caso, os sonhos podem estar incorporan­do o desconfort­o respiratór­io. Quanto mais intensas as risadas, mais forte é a ativação do cérebro por seus próprios opioides —e mais intensas as sensações positivas.

Fica no cérebro a associação entre a companhia do momento e o resultado prazeroso. Assim, quem riu conosco ou nos fez rir ganha valor especial para nosso cérebro.

Não é à toa que gostamos tanto dos nossos amigos e parceiros bem-humoradoS e preferimos sua companhia à de qualquer outra pessoa. Rir faz bem ao cérebro —e ele lembra com carinho especial de quem nos levou ao riso.

A risada leva à liberação de opioides por nosso cérebro; consequent­emente, instalase a sensação de bem-estar

HERCULANO-HOUZEL é neurocient­ista, professora da Universida­de Vanderbilt e autora do livro “The Human Advantage” (Amazon.com) suzanahh@gmail.com

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