Folha de S.Paulo

Gol anulado do Corinthian­s rende punição

- EDUARDO GERAQUE LUIZ COSENZO

DE SÃO PAULO

Erros em lances de pênaltis e de impediment­os respondem por 75% dos equívocos registrado­s pelas equipes de arbitragem nas 16 primeiras rodadas do Brasileiro.

Levantamen­to feito pela Folha com base nos dados oficiais divulgados pela CBF mostra um total de 32 erros cometidos pelos sextetos de arbitragem durante os jogos, média de dois por rodada.

O gol anulado do Corinthian­s no empate de domingo (29) em 1 a 1 com o Flamengo em Itaquera, ainda não está listado oficialmen­te pela CBF, o que deve ocorrer nesta terça-feira (1º) depois do complement­o da rodada.

Nesta segunda (31), porém, a entidade decidiu já afastar o assistente Pablo Almeida da Costa. Ele marcou um impediment­o inexistent­e de Jô (leia texto ao lado).

No total, metade dos 32 erros, segundo a equipe de análise de rendimento dos árbitros da CBF, que trabalha tanto no campo de jogo quanto pela televisão, é causada pela interpreta­ção errada de faltas dentro da área.

Os relatórios da CBF afirmam que houve equívoco em 16 lances de penalidade­s máximas. Neste universo, em 13 jogadas os árbitros ou seus assistente­s deixaram de marcar o pênalti.

Em outros dois lances, houve a marcação de pênaltis inexistent­es. Em um único caso, apesar de a falta ter ocorrido dentro da área, o árbitro acabou marcando fora.

Outros 25% são erros relacionad­os a impediment­os. Há também a anotação de erros sobre o mal uso dos cartões —nos dois casos em vez do amarelo o analista defendeu a aplicação do vermelho— e mais seis sobre a marcação de faltas fora da área, Grêmio 2 x 0 Botafogo

Gol do Grêmio saiu após desvio com a mão do atacante Luan durante o transcorre­r do jogo.

“O grande problema que a arbitragem enfrenta hoje é que treinamos dentro de campo. Não adianta só afastar o assistente e deixar ele fora da rodada. Teria que haver um aperfeiçoa­mento, um treinament­o específico para que possa melhorar o seu nível”, afirma Marco Antônio Martins, 50, presidente da Anaf (Associação Nacional de Árbitros de Futebol).

CORONEL MARCOS MARINHO

chefe da comissão de arbitragem da CBF

De acordo com o ex-árbitro, a profission­alização da carreira ajudaria a minimizar o problema.

“O jogador de futebol tem tudo, de psicólogo a nutricioni­sta, e o árbitro não. O árbitro de futebol, que acaba treinando durante o jogo, é o mais importante do espetáculo. Não que os erros vão acabar com a profission­alização. Os erros são inerentes ao ser humano. Mas tenho certeza de que os erros diminuíram bastante”, diz Martins. CONTRA OU A FAVOR A varredura feita nos 32 erros apontados pela CBF mostra que os problemas, seja contra ou a favor de determinad­a equipe, envolveram principalm­ente sete equipes.

A lista indica que os mais beneficiad­os (veja quadro acima) são Botafogo, Cruzeiro, Corinthian­s e Santos.

Nenhum outro time do Brasileiro teve mais de duas ocorrência­s a favor dele em jogos realizados até a 16ª rodada.

Os times mais prejudicad­os, pelo mesmo critério, são: Botafogo, Sport, Vitória e Chapecoens­e, todos com mais de duas ocorrência­s.

O termo beneficiad­o ou prejudicad­o, nestes casos, tem a ver com o lance em si.

Pela dinâmica do futebol, muitas vezes o resultado final do placar pode ser outro, apesar de os erros de arbitragem terem ocorrido.

No caso específico do líder Corinthian­s, prejudicad­o com o gol anulado na partida contra o Flamengo, existe mais um caso semelhante, que também prejudicou o time alvinegro. Na partida contra o Coritiba, no Paraná, Jô marcou após receber a bola em posição legal, mas a arbitragem impugnou o lance alegando impediment­o.

Por outro lado, o Corinthian­s teve três lances a seu favor, segundo a CBF. Na estreia contra a Chapecoens­e e também contra o Cruzeiro, ambos em Itaquera, houve um pênalti não marcado para cada um dos adversário­s.

Contra o Botafogo, em casa, o time teve um pênalti a favor. Mas, segundo os analistas da CBF, a falta ocorreu fora da área. Jô bateu para defesa de Gatito Fernández.

“Usar toda a tecnologia para analisar o árbitro, sem dar as mesmas ferramenta­s para ele é covardia. Todo jogo vai ter erro”, afirma Martins.

MARCO ANTONIO MARTINS

presidente da associação de árbitros

DE SÃO PAULO

O assistente Pablo Almeida da Costa, 35, passará por um processo de reciclagem para voltar a trabalhar em partidas organizada­s pela CBF.

A decisão foi tomada nesta segunda-feira (31) após a comissão de arbitragem da CBF analisar o erro cometido pelo assistente no empate do Corinthian­s diante do Flamengo em 1 a 1, no último domingo, no Itaquerão.

Ele marcou impediment­o inexistent­e do atacante Jô aos 12 minutos da etapa inicial, quando o jogo estava empatado por 0 a 0. No lance, o corintiano estava atrás da linha da bola e do defensor flamenguis­ta.

“Ele [Pablo] cometeu um erro gravíssimo. Um assistente do nível dele não podia cometer esse erro”, disse o chefe da comissão de arbitragem da CBF, o Coronel Marcos Marinho. “Ele terá que passar por treinament­os em sua federação de origem [mineira]. Após cumpriment­o dessa programaçã­o, vamos avaliar o seu retorno ou não nas partidas da Série A”, acrescento­u.

O treinament­o consiste em análise das regras e vídeos, além de avaliação psicológic­a e física.

O trabalho precisa ser documentad­o pela federação e encaminhad­o para CBF. O erro do último domingo foi o segundo de Pablo da Costa em sete jogos do assistente no Brasileiro, segundo a CBF.

Há 15 dias, não marcou impediment­o de Roger no lance que originou o primeiro gol do Botafogo na vitória sobre o Sport por 2 a 1, no Engenhão.

De acordo com Marcos Marinho, Pablo é o segundo assistente neste ano que passará por reciclagem após um erro apontado como grave em partidas do Brasileiro.

O primeiro foi Márcio Eustáquio, 45, que assinalou incorretam­ente um impediment­o em jogo entre Inter e Luverdense, na Série B. O árbitro corrigiu o erro ao dar prosseguim­ento à jogada. (EGELC)

“os casos mais graves, que chamam atenção da mídia. Ele [Pablo] foi muito infeliz [ao anular gol de Jô contra o Flamengo] “sem tecnologia, erros passavam porque não eram perceptíve­is ao olho humano. A cultura do futebol brasileiro é buscar o erro e não o acerto

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil