Folha de S.Paulo

Globo derruba ‘JN’, mas perde queda de braço com presidente

- NELSON DE SÁ

A Rede Globo tirou do ar a grade histórica do horário nobre, o sanduíche novela/ telejornal nacional/novela que sustenta sua mescla de entretenim­ento e jornalismo, mas não foi o bastante para constrange­r os deputados a votar contra Michel Temer.

Um por um, na tela da Globo, única emissora aberta a trocar a programaçã­o regular pela transmissã­o ao vivo da Câmara, os parlamenta­res deram seus votos, desta vez mais contidos, não só nas declaraçõe­s e nos gestos, mas até nas roupas.

Desde 17 de maio, quando veio a público o conteúdo da gravação feita por Joesley Batista, a rede aberta e veículos como a Globo News, que é dirigida pelo jornalismo da Globo, atiram sem intervalo contra Temer.

Organizou um encontro do presidente da Câmara e então provável sucessor, Rodrigo Maia, com o vice-presidente de Relações Institucio­nais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo, na casa deste, em Brasília.

O deputado Sérgio Zveiter, cujo escritório de advocacia tem a Globo como um de seus principais clientes, foi relator do caso —e encaminhou contra Temer.

Todos foram derrotados, no horário nobre de quarta. O apresentad­or William Bonner não deu as caras, mas Renata Vasconcell­os noticiou por ele: “Com 263 votos pelo sim, 227 votos pelo não, duas abstenções, 19 ausências e um total de deputados votantes de 492, a maioria da Câmara aprovou o parecer pela rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer”.

Em enunciados e análises posteriore­s na Globo/Globo News, a vitória foi relativiza­da, pelo número de votos. E o comentaris­ta Merval Pereira não recolheu as armas: “A vitória do Temer foi a vitória do clientelis­mo, da politicage­m, do baixo clero”.

O certo é que Temer venceu —ou, como descreveu o comentaris­ta Alexandre Garcia, no final da transmissã­o, às 22h, direto do plenário: “Ele pode não ter popularida­de fora da Câmara, mas aqui ele já viu que tem governabil­idade”.

Derrotados como Zveiter começaram a sentir os primeiros efeitos. A dúvida é quanto ao alcance da retaliação de Temer contra o que chamou de “conspiraçã­o”.

Quanto à Globo, a questão é se vai continuar a queda nos gastos publicitár­ios do governo com a rede, que vêm baixando: R$ 666 milhões em 2014, R$ 438 milhões em 2015, R$ 324 milhões em 2016 —este já com Temer, a partir de 12 de maio, no poder.

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