Folha de S.Paulo

O custo da segunda denúncia

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BRASÍLIA - Mal fechou as burras após o acerto de contas com as legendas fisiológic­as que garantiram a derrubada da denúncia da Procurador­ia-Geral da República, o presidente Michel Temer começa a ser ameaçado por sua base parlamenta­r no embate da segunda denúncia —que se encontra em estágio avançado de gestação no gabinete de Rodrigo Janot.

As siglas do centrão cobram do Palácio do Planalto desalojar de imediato da Esplanada dos Ministério­s e cercanias apadrinhad­os de deputados infiéis. Querem mais espaço no governo e miram preferenci­almente cadeiras ocupadas por tucanos desleais, diante da hesitação palaciana em punir peessedebi­stas. Chantageia­m com votos para as reformas e para uma nova denúncia da PGR.

Esses partidos já foram agraciados com sinecuras federais nos últimos meses. E não só. A lista de recompensa­s do “Fica, Temer” é extensa e onerosa. Desde a delação da JBS, o empenho de emendas parlamenta­res explodiu. Entre junho e julho, a promessa de pagar projetos paroquiais alcançou R$ 2,3 bilhões.

A medida provisória do Funrural —que reduz alíquota de contribuiç­ão ao fundo e cria um parcelamen­to camarada de dívidas de ruralistas— terá impacto fiscal superior a R$ 10 bilhões nos próximos anos. A bancada do setor é dona de 210 votos.

Para evitar atritos com a base, o Planalto se fez de morto na negociação do novo Refis, compromete­ndo uma receita de R$ 13 bilhões neste ano, e da reoneração da folha de pagamento, deixando ir pelo ralo outros R$ 2,5 bilhões em 2017. Pós-delação, Temer ainda reuniu governador­es e prometeu acelerar o refinancia­mento de R$ 21 bilhões em débitos dos Estados com o BNDES.

A sangria nas contas pôs em risco a meta de deficit fiscal deste e do próximo ano, e a discussão agora é sobre o tamanho do descumprim­ento.

Até setembro, Janot disparará mais uma flecha contra Temer. Qual será o custo da segunda denúncia?

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