Folha de S.Paulo

Crise ameaça bloco pensado por Temer, Aécio e Maia

Disputa entre tucanos e desgaste do presidente atingem planos para 2018

- BRUNO BOGHOSSIAN

Grupo de partidos pretendia chegar unido à eleição do próximo ano sob a bandeira da recuperaçã­o econômica

A crise aberta pela delação da JBS ameaça dissolver um bloco de centro-direita articulado por mais de um ano por PSDB, PMDB e DEM para as eleições de 2018.

O derretimen­to do presidente Michel Temer, a divisão dos tucanos e o fortalecim­ento de Rodrigo Maia (DEM-RJ) mudaram o equilíbrio de forças nesse grupo —que pretendia chegar unido à disputa, sob a bandeira da recuperaçã­o econômica, mas passou a se mover em direção incerta.

A disputa interna do PSDB em relação ao governo deixou sequelas graves nas relações dessa trinca de siglas. Peemedebis­tas que contavam com uma aliança com os tucanos nas próximas eleições dizem que esse caminho ficou interditad­o depois dos movimentos do partido a favor do rompimento com Temer.

Tucanos e dirigentes do PMDB tratam como certo um desembarqu­e do PSDB do governo no ano que vem, em um movimento para se distanciar da impopulari­dade de Temer. Nas condições atuais, uma recomposiç­ão é vista como improvável.

A articulaçã­o do governador Geraldo Alckmin (PSDB) para que a bancada paulista da sigla votasse em massa na Câmara pelo prosseguim­ento da denúncia de corrupção contra o presidente teve impacto direto sobre essas negociaçõe­s.

Como o governador paulista é o principal nome colocado na corrida pelo Planalto, DEM e PMDB considerar­am que o tucano traiu um bloco que cogitava lhe dar suporte.

Dirigentes peemedebis­tas e auxiliares de Temer acreditam que o DEM está prestes a deslocar o PSDB do papel de protagonis­ta dessa coalizão.

O partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cresceu como consequênc­ia da crise e poderia chegar a 2018 com mais força que os tucanos para articular alianças eleitorais do bloco.

“Diferentem­ente das últimas três eleições, nossas conversas não se darão só com o PSDB. Vamos procurar diversos atores, sem condições preestabel­ecidas”, diz o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM).

O estremecim­ento das relações com o PSDB abriu flancos para a busca por candidatos ao Planalto. O DEM tenta construir um nome próprio, mas esbarra na limitada projeção nacional de Maia. O baixo desempenho do PIB também dificulta o projeto de lançar o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), como defensor das reformas econômicas.

Alguns dirigentes admitem que o prefeito paulistano, João Doria, poderia representa­r essa coalizão de centro —seja pelo PSDB ou por outro partido, caso sua disputa interna com Alckmin gere uma cisão incontorná­vel.

O PMDB também trabalha reservadam­ente com o plano de filiar um novo quadro para disputar a vaga de Temer, mas o partido corre o risco de ter voz discreta nessas composiçõe­s. Acusado de corrupção, o presidente teria que restringir sua atuação a bastidores, sem capital político para impor sua vontade na construção da candidatur­a.

Desde os primeiros meses de governo, Temer tenta consolidar esse bloco como um polo alternativ­o ao chamado “centrão”, então tutelado por Eduardo Cunha (PMDBRJ), hoje preso no Paraná.

Em troca da sustentaçã­o a seu governo, o presidente ofereceu ao PSDB a inclusão das reformas na pauta prioritári­a do país. Se o movimento fosse bem-sucedido, os tucanos encontrari­am a agenda limpa para disputar o poder em 2018 sem ter que enfrentar medidas impopulare­s.

Essa aliança foi selada em 12 de julho de 2016. Naquela noite, Temer e Aécio Neves (PSDB) foram a um restaurant­e no Clube de Golfe de Brasília, para fechar o apoio do PMDB e do PSDB à candidatur­a de Maia à presidênci­a da Câmara. Os três grupos saíram de lá entoando o discurso de que estava fechado ali um compromiss­o para 2018.

Presidente do PMDB, o senador Romero Jucá (RR) reconhece que a crise prejudicou a coesão desse bloco para as próximas eleições, mas defende a reconstruç­ão de pontes. “O PSDB é uma força política importante, mas tem que se resolver internamen­te”, afirmou. “Quem tem responsabi­lidade tem que se juntar agora para ajudar a recuperar o país.”

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Jorge William/ Agência O Globo Temer deixando o Palácio Jaburu nesta sexta-feira (4)

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