Folha de S.Paulo

Aécio reaparece em hora crucial para Temer

Sumido desde a delação da JBS, em maio, senador tucano retomou articulaçã­o às vésperas de votação de denúncia

- TALITA FERNANDES

Acusado de ter pedido R$ 2 milhões a Joesley, ele chegou a ser afastado do mandato e teve a prisão requerida

Afastado dos holofotes desde maio, após ter sido atingido pela delação do empresário Joesley Batista, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) voltou à cena na última semana.

Na véspera da mais importante votação para o governo Michel Temer na Câmara, o tucano jantou no Palácio do Jaburu no sábado (29) e almoçou no domingo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O trabalho deu resultado. Na última quarta-feira (2), 263 deputados votaram para barrar o processo. Desse total, Temer contou com o apoio de 22 dos 47 parlamenta­res do PSDB na Casa, enquanto a expectativ­a era de que a maioria da bancada votasse pela continuida­de do processo.

O governo, que seguia mantendo conversas discretas com Aécio, fez um apelo para que ele aparecesse publicamen­te nas articulaçõ­es a fim de dar mais força ao apoio do PSDB ao Planalto.

O ressurgime­nto em público coincidiu com novo revés: a Procurador­ia-Geral da República apresentou mais um pedido de prisão do tucano.

O senador ficou mais de 40 dias afastado das atividades parlamenta­res no primeiro semestre por determinaç­ão do STF, que acabou reformando a decisão e autorizou que ele reassumiss­e o mandato no fim de junho.

De lá para cá, Aécio busca um equilíbrio entre não se expor em excesso e nem desaparece­r completame­nte como um líder do PSDB.

De acordo com um tucano, o mineiro sabe que se aparecer demais pode enfrentar novas investidas do Ministério Público, mas entende que submergir o enfraquece­rá.

Os gestos do senador no último fim de semana foram lidos por alguns aliados como uma tentativa de reassumir a presidênci­a do PSDB, o que não se concretizo­u.

Aécio se licenciou do comando do partido logo depois do vazamento de um áudio em que ele é flagrado pedindo R$ 2 milhões a Joesley. O cargo foi assumido interiname­nte pelo senador Tasso Jereissati (CE).

Tasso, que é favorável ao desembarqu­e do governo, se irritou com as articulaçõ­es e chegou a escrever uma carta de renúncia no começo da semana passada. Mas o episódio foi contornado após conversas que tiveram forte atuação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Aécio pediu a Tasso que ficasse no cargo. Em troca, compromete­u-se a não criar dentro do partido uma espécie de “duplo comando”. O cearense deve, por sua vez, diminuir o tom de crítica ao governo.

O acordo entre os tucanos passou ainda pelo desenho de um novo calendário para definir o comando nacional do partido.

Em vez de fazerem a convenção em agosto, como pretendia Tasso, concordara­m em eleições para os diretórios municipais, estaduais e nacional entre novembro e dezembro.

Em um aceno a Alckmin, que pretende disputar o Planalto em 2018, combinaram de anunciar ainda em 2017 o pré-candidato da legenda.

Isso dificultar­ia a vida do prefeito de São Paulo, João Doria, que teria de assumir publicamen­te suas intenções de ser presidente com menos de um ano de sua gestão. CABEÇAS PRETAS Além de ceder à presidênci­a a Tasso, Aécio fez um aceno à ala que defende que o partido deixe a base do governo. Ele ligou na quinta para o deputado Daniel Coelho (PE), um dos principais líderes do movimento contrário ao apoio tucano a Temer.

A ligação resultou numa postagem de Coelho num grupo de mensagens da bancada tucana na Câmara.

“A atitude de Aécio e a disposição de Tasso em encarar a difícil missão trabalham em nome da união. Não é em torno de Temer ou de terceiros que vamos nos unir. Só o nosso projeto nos une. Recebo o ato de Aécio como ato humildade e conciliaçã­o”, escreveu.

O clima no partido, porém, ainda é de desconfian­ça mútua, apesar do acordo, e os próximos desdobrame­ntos da relação do PSDB com o governo devem dar o tom do que vai se construir até dezembro.

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Givaldo Barbosa - 3.ago.2017/Agência O Globo Aécio (à direita) ao lado do senador Tasso Jereissati, em encontro nesta semana em que discutiram futuro do partido

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