Assembleia Constituinte chavista é empossada em meio a protestos da oposição
Os 545 membros da Assembleia Constituinte da Venezuela foram empossados nesta sexta (4), apesar das suspeitas de fraude na eleição do último domingo (30), e escolheram, por unanimidade, a exchanceler Delcy Rodríguez como presidente da Casa.
A assembleia para a troca da Carta é instalada sem o reconhecimento da oposição, que boicotou a votação, e de 12 países, incluindo EUA, Espanha e Brasil.
A posse também deve levar americanos e europeus a anunciarem novas sanções econômicas ao país.
Ao assumir, Rodríguez reiterou o discurso de que a Casa Branca lidera uma ingerência contra o país e que o mundo deve interpretar a eleição da Constituinte como o desejo dos cidadãos de resolverem a crise sozinhos.
“Nós, venezuelanos, queremos resolver nossos problemas entre venezuelanos, sem nenhum tipo de mandato imperial”, disse, para na sequência atacar os EUA. “Im- pério selvagem e bárbaro: não se meta com a Venezuela porque a Venezuela jamais desmaiará ou se entregará.”
Ela atribuiu à oposição a violência nos protestos e chamou-os de “violadores em massa dos direitos humanos”. “Essa direita fascista que pretende derrocar a revolução foram mais ditadores quando eram governo.”
Também reiterou a ameaça chavista de usar o poder constituinte para processar os adversários políticos em uma comissão da verdade. “A eles dizemos que, se não seguem o rumo democrático, será imposta a justiça.”
Rodríguez disse que a Casa foi criada para “defender e aprofundar” o legado de Hugo Chávez (1954-2013) — embora parte do chavismo considere que, ao tentar trocar a Constituição, o ditador Nicolás Maduro tenha violado a herança do líder da Revolução Bolivariana.
“Não viemos para destruir a Constituição, mas para tirar do caminho todos os obstáculos ditatoriais impostos pela burguesia, que impediram de exercer, em sua totalidade, sua validade.”
A cerimônia foi realizada no Salão Elíptico do Palácio Federal Legislativo, local onde os constituintes pretendem usar como plenário (veja acima). A primeira sessão acontece neste sábado (5).
Do outro lado do prédio está instalada a Assembleia Nacional, dominada pela oposição, que considera a Constituinte ilegítima e permanecerá em sessão em respeito à população. Eles dizem que só deixarão o local à força.
Nos últimos meses, a cúpula do chavismo tem ameaçado dissolver a Assembleia Nacional como primeira medida da Constituinte, motivo pelo qual a convivência dos dois no Palácio Legislativo deve durar pouco tempo.
Um dos sinais foi a volta ao prédio dos retratos de Simón Bolívar e de Hugo Chávez, que haviam sido retirados pelos antichavistas ao tomarem posse, em janeiro de 2016. PROTESTOS Enquanto a Constituinte era instalada, manifestantes do regime e da oposição foram às ruas. Os militantes chavistas acompanharam os novos parlamentares na visita ao Quartel da Montanha, onde está enterrado Chávez.
Por sua vez, os adversários de Maduro foram impedidos de sair em manifestação na zona leste da cidade. Houve confronto com membros da Guarda Nacional.
Nesta sexta, o dirigente opositor Antonio Ledezma voltou à prisão domiciliar após a Justiça tê-lo mandado de volta para a cadeia devido a um suposto plano de fuga. Leopoldo López, que também voltou à reclusão no mesmo dia, não havia sido libertado até a conclusão desta edição.