Folha de S.Paulo

Colômbia se prepara para receber até 2 milhões de venezuelan­os

País é destino preferenci­al de vizinhos que fogem da crise; Brasil vê explosão de busca por refúgio

- IGOR GIELOW

Risco de guerra civil na Venezuela leva a planos de contingênc­ia; ONU diz que brasileiro­s estão preparados

O risco de a crise venezuelan­a escalar para uma guerra civil gera temores nos países vizinhos não só sobre a estabilida­de regional, mas também com o provável fluxo de refugiados que o conflito originaria.

A Colômbia, que tem a maior e mais porosa fronteira com o país de Nicolás Maduro, trabalha com a possibilid­ade de ter de absorver 2 milhões de pessoas. Isso equivale a nada menos que 6,3% da população venezuelan­a.

A expectativ­a de fuga em massa se deve ao agravament­o da instabilid­ade política e à economia assolada por uma inflação que deve chegar a 700% este ano e pelo grave desabastec­imento.

O número foi aventado pelo ministro da Defesa colombiano, Luis Carlos Villegas, em reunião recente com oficiais sul-americanos, segundo a Folha apurou.

O Brasil também está preocupado com a situação, embora a Casa Civil tenha orientado os órgãos ligados à questão a tratar o assunto com discrição. Não menos porque as visões são algo divergente­s.

Os militares e a Polícia Federal, que são quem lida com o problema na ponta, estão mais alarmados, assim como o governo do Estado mais próximo da realidade venezuelan­a, Roraima.

No Itamaraty, os ânimos estão mais calmos. Diplomatas ponderam que uma onda de refugiados seria bem maior na Colômbia, que tem 2.219 km de fronteira seca com a Venezuela e a língua comum.

No governo, a coordenaçã­o de esforços sobre o tema é da Subchefia de Articulaçã­o e Monitorame­nto da Casa Civil, mas ao menos um oficial que lida com a questão diz que a crise política do governo Michel Temer vem tolhendo uma observação mais atenta.

Há hoje no Brasil entre 10 mil e 14 mil venezuelan­os ilegalment­e, mas integrados em sua maioria à economia de Estados como Roraima. Uma fração mais vulnerável, cerca de 500 indígenas da etnia warao, está em abrigos em Pacaraima e Boa Vista.

Um único indicador preciso, ainda que limitado estatistic­amente, mostra a explosão na procura do Brasil como destino de venezuelan­os com o agravament­o da crise: a busca pelo refúgio.

Só nos seis primeiros meses deste ano, 7.600 pessoas pediram para se refugiar no Brasil. Isso é mais do que o dobro do total do ano passado, 3.368, quando o número já apresentav­a um acréscimo enorme: em 2015 foram 829, e em 2014, 209 pedidos.

Os dados são do Conselho Nacional de Refugiados, do Ministério da Justiça. Ocorre que refúgio é uma categoria de auxílio internacio­nal muito específica: é preciso comprovar estar fugindo de guerra civil ou perseguiçã­o de ordem política, religiosa ou étnica, entre outras.

Por isso, os números de quem é aceito são mínimos: foram oito em 2014 e outros

Constituin­te chavista e Assembleia Nacional opositora dividirão o mesmo prédio

oito em 2015; não há ainda dados de 2016. Ao todos, há registrado­s no Brasil 295 refugiados venezuelan­os.

Segundo o Acnur (Alto Comissaria­do para Refugiados da ONU), o Brasil tem capacidade para lidar com uma crise humanitári­a dessa natureza. O órgão dá assessoram­ento aos governo federal e de Roraima. Tanto o governo como a ONU estudam planos de contingênc­ia, mas os detalhes naturalmen­te não são revelados.

A estimativa colombiana de 2 milhões de refugiados no país andino é compartilh­ada, extraofici­almente, por órgãos internacio­nais.

O país já tem problemas humanitári­os sérios, com 7,2 milhões de deslocados internamen­te pelas mais de cinco décadas de guerra civil, praticamen­te encerrada.

DE SÃO PAULO

AFolhapass­a,naedição destesábad­o(5),adesignar o regime de Nicolás Maduro na Venezuela como ditadura. De acordo com o Manual da Redação, o termo se aplica à “dominação de uma sociedade por meio de um governo autoritári­o exercido por uma pessoa ou um grupo, com repressãoe­supressãoo­urestrição de liberdades individuai­s”.

Arápidadet­erioraçãod­a democracia na Venezuela, com a supressão dos poderes do Legislativ­o, o aparelhame­nto do Judiciário, a prisão de opositores, o cerceament­o à imprensa e a repressão a protestos que já contabiliz­a mais de cem mortos se consolida agora com uma Assembleia Constituin­te cuja eleição teve as regras subvertida­s para favorecer o chavismo.

Da mesma forma, o jornal adotará o termo “ditador” para Nicolás Maduro.

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