Folha de S.Paulo

Os drones chegam ao campo

- MARCOS SAWAYA JANK COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo: Samuel Pessôa

NOVAS TECNOLOGIA­S e processos podem modificar radicalmen­te a paisagem rural no mundo.

A fotografia mais comum na Ásia rural, por exemplo, são os lindos campos de arroz que se espalham em plataforma­s pelas montanhas ou em áreas inundadas nas planícies. Ali vemos pequenos lavradores curvados rente ao solo, descalços, usando enxadas primitivas, pulverizad­ores costais ou guiando búfalos que puxam sulcadores primitivos.

Agrônomos brasileiro­s dirão que esse modelo primitivo de produção jamais terá a eficiência da nossa agricultur­a intensiva em capital, altamente mecanizada e baseada em propriedad­es agrícolas com alta produtivid­ade e escala de produção.

Mas estão surgindo drones que podem transforma­r radicalmen­te o processo na pequena propriedad­e.

Temos visto drones que permitem monitorar de perto a condição das lavourasea­soperações­agrícolas.Começam a chegar ao mercado máquinas voadoras que literalmen­te substituem o trabalho de lavradores, animais e tratores.Emvezdopul­verizadorc­ostal, surgem drones capazes de pulverizar três hectares por hora, com ultrabaixo­volumedeág­ua(8-12litros/ha),precisão de aplicação localizada, melhores formulaçõe­s e mínimo desperdíci­o de insumos. Eles voam com base em coordenada­s de GPS e são operados em sistemas de “digital farming”.

Além disso, o manejo de drones melhora as condições de trabalho, viabiliza a permanênci­a de agricultor­es de idade mais avançada, reduz a exposição a defensivos e minimiza os riscos de intoxicaçã­o e de incidentes fatais com serpentes e outros animais peçonhento­s, muito frequentes na Ásia, por exemplo.

No Japão o uso de helicópter­os de controle remoto já é prática comum nos últimos dez anos, inclusive na semeadura de arroz. Na China, estima-se que já haja mais de 5.000 drones em operação. Estimativa­s apontam que esse número possa chegar a 100 mil equipament­os até 2020. Isso significa que, em apenas três anos, cerca de 30% da área cultivada na China será manejada com drones. Presenciam­os eventos na China em que aplicações são feitas com múltiplos drones ao mesmo tempo, em paralelo, controlado­s em conjunto.

Tudo indica que essa revolução virá acompanhad­a de empresas especializ­adas que oferecerão insumos já aplicados na propriedad­e rural, compartilh­ando o risco da produção com os agricultor­es. Ou seja, em vez de adquirir sementes e defensivos, o agricultor adquire hectares de lavoura semeada e devidament­e protegida contra pragas e doenças.

O governo chinês oferece financiame­nto subsidiado para a aquisição de drones. Grandes fundos de investimen­to do país apostam nesse modelo de negócios, que pode levar a pequena agricultur­a asiática diretament­e do século 19 para o século 21.

Ainda há dois empecilhos que dificultam a expansão dos drones na agricultur­a: o custo relativame­nte alto dos equipament­os e a falta de regulament­ações específica­s — formulação adequada, carga máxima, normas e habilitaçã­o de voo. Mas isso vai mudar rapidament­e.

Em2016,aChinatiro­udoBrasila­posição de 3º maior exportador agrícola do planeta, graças a um modelo baseadonae­xportaçãod­elegumes,verduras, frutas e pescados, destinados basicament­e aos seus vizinhos asiáticos. Hoje a China possui mais de 3 milhões de hectares de cultivo protegido, o que representa­90%dascasasde­vegetação plásticas utilizadas no mundo.

O que vai ocorrer se uma revolução nas tecnologia­s e nos processos agropecuár­ios permitir que os mais de 500 milhões de pequenos produtores da Ásia aumentem a sua produtivid­ade em20%ou30%empoucosan­os?Qual o impacto que isso terá na exportação futura de países como o Brasil?

Em tempos turbulento­s, fincar os pés e as sementes no chão é fundamenta­l, mas não podemos deixar de olhar o que está acontecend­o no mundo tecnológic­o digital, nos céus e nos nossos vizinhos de além-mar.

Fincar os pés e as sementes no chão é fundamenta­l, mas não podemos deixar de olhar para a tecnologia

MARCOS SAWAYA JANK

Esta coluna foi escrita em coautoria com

diretor de Marketing para a região Ásia-Pacífico da Bayer Crop Science

ANDRÉ KRAIDE MONTEIRO, marcos@jank.com.br

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