Folha de S.Paulo

Pesquisas vão de composto presente em filtro solar a ‘rota de células de defesa’

- LOBO BRAGA JULIO ABRAMCZYK

Todos os dias, seis artigos científico­s sobre esclerose múltipla são publicados em periódicos científico­s.

Nos últimos seis anos, houve aumento de 63% nas publicaçõe­s anuais sobre o tema, segundo levantamen­to feito a pedido da reportagem pelo estatístic­o Estêvão Gamba, na base de periódicos científico­s “Web of Science”.

O aumento revela o interesse recente pela doença, sobre a qual falta informação e sobram dúvidas. Sem um norte, os pesquisado­res atiram para muitos lados.

Um dos estudos mais recentes, do bioquímico Hector DeLuca, da Universida­de de Wisconsin (EUA), sugere que compostos químicos presentes em alguns protetores solares podem ajudar a impedir o avanço da doença.

As substância­s homossalat­o e octissalat­o bloquearam em ratos uma enzima (ciclooxige­nase) encontrada em lesões de esclerose múltipla.

A hipótese é de que esse bloqueio possa impedir o avanço da doença, mas o estudo ainda é incipiente.

“Há uma busca na ciência de tentar compreende­r o tráfego dessas células [linfócitos]”, afirmou à Folha o neurocient­ista Fabian Docagne, do Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica, da França. Na doença, elas atacam o sistema nervoso central e provocam os sintomas

Em sua pesquisa, o francês analisa o acesso de linfócitos à barreira hematoence­fálica, que regula a entrada de moléculas no sistema nervoso central. A estrutura evita as agressões à mielina, responsáve­l por conduzir impulsos nervosos.

Outros grupos de pesquisa tentam vias diferentes, como reduzir o número de linfócitos ou reconstrui­r a mielina.

Em abordagem diversa, cientistas desenvolve­m drogas que “trancam” os linfócitos nos linfonodos (pequenos órgãos do sistema linfático), antes que eles atinjam o sangue.

É o caso, por exemplo, do ozanimod, substância em produção pelo laboratóri­o Celgene. Resultado parcial divulgado pela empresa em maio mostrou que a droga foi mais eficaz em reduzir ataques do que a já existente be- ta-interferon­a (injeção de proteínas que reduzem inflamaçõe­s causadas pela esclerose múltipla). Mais testes, porém, são necessário­s.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analisa o pedido de registro de dois novos medicament­os para o mercado brasileiro: ocrelizuma­be (Roche) e daclizumab­e (Biogen).

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