Folha de S.Paulo

SEMPRE VIVEMOS NO CASTELO

-

Nova Inglaterra, as irmãs Blackwood vivem na antiga casa da família, quase sem contato com outras pessoas.

Por companhia, as irmãs têm o gato Jonas e um velho tio gagá, Julian, que passa os dias escrevendo e reescreven­do a história do clã, como se fosse um personagem de Faulkner.

Mas quem narra de verdade é Merricar, a caçula, e em torno da sua voz econômica e agressiva se estabelece o clima opressivo do romance.

Sabe-se que Constance, a mais velha, foi acusada de um crime hediondo, e é por isso que elas vivem isoladas, “na lua”, condenadas à rotina de cozinhar e comer, prisioneir­as nas ruínas do próprio castelo.

Em seu realismo irreal, Shirley Jackson, com estilo que lembra Flannery O’Connor e as bizarrices de David Lynch, consegue que personagen­s tão estranhas surjam simpáticas aos olhos do leitor. Mas é tudo aparência e, por trás de tudo, existe uma face chocante. BONEQUINHO DE VODU Incompreen­dida em seu tempo, a escritora foi acusada de ser uma bruxa. Diziam que fizera um boneco de vodu do editor Alfred Knopf para fincar-lhe alfinetes.

Ela não desmentia os rumores, lia cartas de tarô, citava obras de magia negra e seus 11 gatos tinham nomes de demônios.

Alcoólatra e viciada em anfetamina­s, Shirley Jackson morreu aos 49 anos, de ataque no coração.

Sofria de obesidade mórbida, depressão, ansiedade e agorafobia. Nos últimos meses de vida, era incapaz de deixar o quarto: quase igual a suas personagen­s em “Sempre Vivemos no Castelo”. AUTORA Shirley Jackson TRADUÇÃO Débora Landsberg QUANTO R$ 39,90 (200 págs.) AVALIAÇÃO muito bom

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil