Folha de S.Paulo

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ESFORÇO PELA REFORMA Temer passou a operar por etapas. Era preciso 1) frear o namoro do mercado financeiro com Rodrigo Maia e 2) mostrar que ainda era capaz de aprovar medidas.

A reforma trabalhist­a tramitava no Senado. Renan Calheiros (AL), então líder do PMDB e desafeto histórico do presidente, fazia duras críticas ao texto e ao Planalto. Temer se fiou em Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo. Primeiro ameaçou sacar Renan da liderança.

Quando viu que só promessa não surtiria efeito, encurralou o alagoano, que acabou renunciand­o ao cargo.

A reforma trabalhist­a foi aprovada no Senado em 11 de julho. O governo capitalizo­u a vitória, mesmo sabendo que o texto —muito querido pelo empresaria­do— tinha força própria no Congresso.

Meirelles fez o mesmo, para o seu público. Auxiliares lembram uma conferênci­a telefônica com mais de 1.400 investidor­es. O ministro falou como nunca naquela semana.

Começou aí a operação que acabou baixando o balão de Rodrigo Maia. O presidente da Câmara publicou em suas redes sociais texto em que dizia que não aceitaria nenhuma alteração na reforma aprovada pelo Congresso.

Com o gesto, desautoriz­ava o governo, que havia prometido enviar uma medida provisória para amenizar trechos da reforma. A iniciativa foi recebida com desconfian­ça pelo mercado. No Senado, Casa que havia negociado as salvaguard­as com Temer, o deputado foi muito criticado.

Ganhou força a tese de que ele estava em campanha pela queda do governo. Irritado, Maia se afastou do presidente. Temer mergulhou na política miúda.

Falou com centenas de deputados. Disse a eles que era sua honra o que estava em jogo na votação que poderia barrar a denúncia de Rodrigo Janot. Maia foi convencido a baixar a guarda e, na reta final, decidiu ajudar Temer no que podia.

Foi convencido por aliados de que, se o governo tivesse que cair, cairia de maduro. Ele não precisava se mover.

Viu na profunda divisão do PSDB uma oportunida­de para firmar sua sigla, o DEM, como parceiro prioritári­o do PMDB. O presidente estava de volta ao jogo. MAPA E EXONERAÇÕE­S Tinha, na linha de frente, Eliseu Padilha. Típico operador de bastidores, o ministro tem o “dom” de mapear anseios de parlamenta­res. Na Casa Civil, toca nomeações e liberações de verba. Sabe quem quer o quê e onde.

O Planalto iniciou uma contagem quase diária. O presidente queria alcançar 260 votos. Maioria absoluta da Câmara. O suficiente para aprovar leis complement­ares.

Na quarta, 2 de agosto, o governo entrou em campo com tudo. Ministros foram exonerados para voltar à Câmara. Lá, não só deram voto a Temer, como ouviram mais pedidos dos deputados.

Imbassahy levou ao plenário a lista de emendas do governo. Anotava pedidos e conferia liberações. Por volta das 16h, Temer telefonou. “Presidente, o jogo aqui vai ser grande”, ele disse, tentando tampar a boca com a mão.

Na Fazenda, Meirelles projetava o dia seguinte. “Quando resolvermo­s essa questão”, disse a auxiliares, “vamos centrar fogo nas reformas”. Temer teve 263 votos.

Meirelles pregou a urgência da reforma da Previdênci­a. Maia disse que se comprometi­a a votar o texto ainda em setembro. A primeira “questão” estava resolvida.

Rodrigo Janot, que deixa a chefia da PGR em setembro, promete nova denúncia. A bala de prata? “Se vier, a gente vê”, disse Moreira, semana passada, questionad­o sobre o assunto. Ajeita daqui, ajeita dali... Eles vão passando.

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