Crédito público para a inovação despenca
Bloqueio de verbas pelo governo e demanda baixa de empresas na crise reduzem financiamento para ciência e tecnologia
Empréstimos do BNDES voltados à inovação caíram 39% entre 2015 e 2016; fundo tem 85% de recursos bloqueados
O apoio do setor público à inovação vem perdendo força como resultado da crise.
De um lado, recursos não reembolsáveis direcionados à inovação minguaram como consequência da dificuldade orçamentária do governo. De outro, a demanda e a concessão de crédito para inovação perderam força com a queda da capacidade de pagamento das empresas.
No BNDES, houve recuo de 39% nos empréstimos para financiar inovação entre 2015 e 2016, de R$ 6 bilhões para R$ 3,6 bilhões.
A tendência seguiu no primeiro semestre de 2017, quando a redução foi de 21% em relação ao mesmo período no ano anterior, para R$ 1 bilhão.
O banco atribui a queda à crise econômica e destaca que a redução dos desembolsos para inovação segue em ritmo semelhante ao das demais linhas de crédito do banco. O BNDES destaca que o desembolso para inovação foi de 0,4% dos empréstimos em 2009 para 4% em 2016.
A Finep, agência financiadora de projetos ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, enfrenta situação dúbia.
De um lado, o FNDCT (Fundo Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico), administrado por ela, teve 85% de seus recursos contingenciados em 2017.
Em 2017, só não foram contingenciados R$ 620 milhões dos R$ 3,7 bilhões arrecadados pelo FNDCT (que recebe percentuais do faturamento de diferentes setores).
O fundo responde por ações como subvenção a projetos de inovação empresarial, investimento em infraestrutura de laboratórios e concessão de bolsa a pesquisadores.
Marcos Cintra, presidente da agência, afirma que o valor será usado praticamente apenas para pagamento de contratos já firmados. Não será possível usar dinheiro dos fundos para novas chamadas para subvenção de projetos, e programas de bolsas para pesquisa serão prejudicados.
“Estamos praticamente sucateando a área de ciência e tecnologia. Se seguirmos da forma como as coisas estão, vamos perder o investimento feito nos últimos 30 anos.”
A pasta da Ciência e Tecnologia diz que tenta reverter os contingenciamentos. BAIXA DEMANDA Por outro lado, a Finep possui recursos próprios, que deveriam ser emprestados para projetos inovadores de empresas. Sua meta era emprestar R$ 2,2 bilhões neste ano, mas foram contratados apenas R$ 400 milhões até o dia 21 de julho, reflexo da baixa demanda das empresas durante a crise.
Segundo especialistas, a perda de recursos para inovação impacta a retomada econômica. Roberto Nicolsky, diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec), diz que a subvenção às empresas é o melhor mecanismo para incentivar a inovação.
Isso porque trabalhar com o novo envolve investimentos de longo prazo e grande incertezas e riscos, que nem sempre empresas estão dispostas a correr sozinhas.
Por isso, Nicolsky diz que esse risco deve ser compartilhado com o Estado, pois ele seria beneficiário dos projetosquederemcertocomaumento de arrecadação.
Para Luiz Mello, vice-presidente da Anpei (Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras), o principal impacto da falta de recursos para inovação está na competitividade das empresas:
“O investimento em inovação visa o lançamento de produtos no mercado. Se deixo de fazer isso e meu concorrente estrangeiro faz, estou perdendo uma fatia para ele.”