Folha de S.Paulo

Peça dá cor mitológica a guerra dos sexos

Montagem se vale de confronto fictício entre Aquiles e Pentesilei­a para retratar tensão entre homens e mulheres

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

Com direção de Maria Thaís, espetáculo adapta pela primeira vez no país um texto da italiana Lina Prosa

É por meio de arquétipos da mitologia que a dramaturga italiana Lina Prosa tece embates entre o masculino e o feminino. “Programa Pentesilei­a - Treinament­o para a Batalha Final”, em cartaz em São Paulo, coloca em cena um confronto fictício entre a rainha amazona Pentesilei­a e o herói grego Aquiles.

Trata-se da primeira montagem brasileira da obra da italiana (traduzida aqui por Laymert Garcia dos Santos), conhecida por discutir tensões contemporâ­neas, como a crise de refugiados —retratada em “Lampedusa Beach” (praia de Lampedusa).

“Lina olha de uma forma muito poética para os mitos arcaicos e traz os paradoxos que vivemos hoje, de tensões entre homens e mulheres”, diz a diretora Maria Thaís, que escalou para o papel da rainha amazona a atriz Maria Esmeralda Forte, 80.

“Quando eu li o texto, a primeira imagem que tive foi dessa mulher que, mesmo na velhice, não abre mão de exercer o feminino. A gente tem uma tendência a pensar que o feminino morre com [o fim da] menstruaçã­o, depois de a mulher ter filhos. Na hora, tive essa imagem de uma mulher guerreira, ainda que anciã”, diz Forte.

Pentesilei­a, segundo a mitologia, foi morta por Aquiles na Guerra de Troia. Mas o herói, ao retirar a armadura da rainha, apaixona-se por ela.

MARIA THAÍS

diretora

A minha imagem é de que o patriarcad­o está sempre pronto para devorar, e o feminino, para resistir

No espetáculo, a amazona vive num tempo e num espaço não definidos, um “qualquer lugar”, como define a diretora. O herói grego (papel de Antonio Salvador) é uma representa­ção do contemporâ­neo e de seu aspecto duro: a trilha sonora que o acompanha é metálica, suas cores são frias.

O embate, na montagem, toma ares de canibalism­o. Em determinad­o momento, Pentesilei­a devora Aquiles. “É como se o feminino devorasse o masculino. Como se ela ficasse com o paradoxo dessa dupla condição, o masculino e o feminino dentro dela”, explica Maria Thaís.

“Trata-se do matriarcad­o matando o patriarcad­o. A minha imagem é a de que o patriarcad­o está sempre jovem, pronto para devorar, e de que

 ?? Ale Catan/Divulgação ?? A atriz Maria Esmeralda Forte como a rainha Pentesilei­a
Ale Catan/Divulgação A atriz Maria Esmeralda Forte como a rainha Pentesilei­a

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil