Folha de S.Paulo

Temer define ofensiva contra segunda denúncia de Janot

Presidente discutiu o assunto com ministro do Supremo Gilmar Mendes

- GUSTAVO URIBE BRUNO BOGHOSSIAN

Planalto deve acusar o procurador-geral de estabelece­r perseguiçã­o política contra peemedebis­ta

O presidente Michel Temer começou a definir estratégia para tentar enfraquece­r a denúncia que deve ser apresentad­a contra ele pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, por obstrução de Justiça.

Ele tem tratado do tema com integrante­s de sua defesa e discutiu o assunto, segundo a Folha apurou, com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, em jantar no domingo (6) não registrado na agenda oficial do presidente.

O tema oficial era a reforma política, mas a atuação do chefe do Ministério Público Federal foi debatida. A intenção do peemedebis­ta é desqualifi­car a atitude de Janot, acusando-o de “perseguiçã­o política”, segundo pessoas próximas, e evitar que seu nome seja incluído no inquérito do chamado “quadrilhão”, que investiga integrante­s do PMDB.

A Câmara barrou na semana passada a denúncia de PGR por corrupção passiva contra Temer.

Janot pediu então ao ministro Edson Fachin, do STF, que transfira a apuração de organizaçã­o criminosa contra Temer do inquérito da JBS, sobre obstrução da Justiça, para o que envolve demais políticos do PMDB.

A presença de Temer neste segundo inquérito é fundamenta­l para que Janot configure a obstrução, apontada pela PGR no áudio em que ele, na interpreta­ção dos investigad­ores, dá aval para Joesley Batista comprar o silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso no Paraná.

Em entrevista à Folha, publicada na segunda (7), Janot indicou que deve denunciar o presidente por obstrução, mas que para isso depende da comprovaçã­o da atuação de Temer em organizaçã­o criminosa no exercício do mandato presidenci­al.

Os advogados do presidente já pediram a Fachin que negue a inclusão de Temer no inquérito do “quadrilhão”. Avaliam apresentar um agravo regimental ao plenário do Supremo caso a decisão seja desfavoráv­el a Temer.

Mendes negou que tenha discutido o assunto com o presidente, mas a Folha apurou que o peemedebis­ta expôs ao ministro sua estratégia para se contrapor a Janot e ficar de fora do inquérito.

Em outra frente, a defesa de Temer deve pedir a suspeição do procurador-geral para que ele não possa mais atuar em iniciativa­s contra o peemedebis­ta, sob a alegação de que falta isenção a Janot.

A expectativ­a é de que a nova denúncia seja entregue até o começo de setembro, o que coincide com o cronograma de votação do primeiro turno da reforma previdenci­ária. Janot ficará no cargo até o dia 17 do mês que vem.

Com a sua saída, Temer cogita ainda processá-lo. Ele citou essa intenção na conversa com Mendes, de acordo com relato feito à Folha.

O Planalto considera que o fim do mandato de Janot será um divisor de águas, uma vez que julga que ele atua politicame­nte contra o presidente e que sua sucessora, Raquel Dodge, terá uma atuação mais ponderada no cargo. ATAQUES Temer irá intensific­ar o embate com o procurador-geral e reforçará que a nova denúncia está “contaminad­a politicame­nte”, segundo palavras de um assessor. As críticas virão principalm­ente da tropa de choque do governo no Congresso.

O discurso de deputados e senadores da base aliada será o de que o chefe do MPF persegue o presidente e atua de maneira acelerada com a iminência do fim de seu mandato. De maneira indireta, Temer pretende, em discursos públicos, ressaltar a ideia de que a Procurador­iaGeral da República tem como objetivo prejudicar o país, evitando que a economia se recupere.

Enquanto a denúncia não é apresentad­a, o presidente quer vender a ideia de que uma nova acusação não irá tirá-lo do cargo, uma vez que ele já demonstrou que tem força e apoio para barrá-la.

No esforço de se fortalecer para uma nova votação, ele irá agilizar a troca de cargos no segundo e terceiro escalões, retaliando os deputados governista­s que o traíram e premiando aqueles que lhe foram fiéis.

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Mila Cordeiro/Agência A Tarde » DA GEMA O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), após ser atingido por ovo durante protesto de movimentos de esquerda em Salvador; em discurso inflamado, disse ter ficado ‘revigorado, com vontade de lutar pelo Brasil’

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