Novos designers exaltam madeira antiga
Material reaproveitado de demolições e trabalhado com técnicas artesanais domina feira de design Made, na Bienal
Quinta edição do evento reúne nova geração por trás de mobiliário que resgata tradições e se aproxima da escultura
No imenso pavilhão de concreto da Bienal de São Paulo, designers não desgrudam os olhos das amostras de madeira numa caixinha. “Tem cedro, freijó, sucupira”, diz Guilherme Sass, da carioca Oficina Ethos. “Peroba-docampo a gente usa muito.”
Ele lista os nomes de árvores, algumas raras outras menos, como se fossem pedras preciosas, talvez porque viraram o fetiche de uma nova leva de designers que fazem do móvel artesanal a coisa mais desejada da Made, feira de design que vai até o fim desta semana no parque Ibirapuera.
No caso, esse novíssimo design brasileiro tenta olhar para técnicas do passado para inventar um presente com alguma história para contar.
Sass e o sócio Rodrigo Calixto, por exemplo, usaram pedaços de madeira descartados no restauro da extinta Casa Daros, no Rio, para construir bancos, balanços e mesas de madeiras nobres, como jacarandá e pau-brasil —matéria prima com quase 600 anos.
Entre os designers mais relevantes da nova geração, Gustavo Bittencourt também usou antigos pedaços de um telhado de madeira para fazer o encosto de suas cadeiras.
“Eles têm até as marcas dos pregos”, diz o designer. “Quando a gente põe a mão num móvel, ele acaba ganhando alma, uma vida.”
Outro jovem designer, Rodrigo Silveira contrasta ao máximo o artesanal ao industrial, mostrando lado a lado duas versões do mesmo banquinho de madeira, um feito à mão e outro com máquinas.
“Toda a nova geração está resgatando esses processos manuais, essas sabedorias antigas”, diz o designer Bruno Simões, um dos diretores da Made. “Eles vão contra a saturação industrial. Tem muito tricô, cerâmica.”
Essas técnicas, aliás, às vezes se misturam aos móveis e outras peças, como as poltronas de metal e tecido de Humberto da Mata, com volumosas tramas de linho como estofado, e as luminárias de lã de Ines Schertel, que parecem explosões de casacos de pele.
Mesmo designers que usam técnicas industriais, como Thiago Bicas, que faz suas bandejas e peças de mesa num processo semelhante ao da impressão tridimensional, tenta dar contornos mais orgânicos à madeira, que quando laqueada lembra até plástico. Moldados com precisão milimétrica, seus objetos parecem ao mesmo tempo leves e maleáveis. QUANDO abre nesta terça (8), para convidados; de 9/8 a 13/8; qua. a sex., das 13h às 21h; sáb., das 12h às 21h; dom., das 12h às 20h ONDE pavilhão da Bienal de São Paulo, pq. Ibirapuera, portão 3, mercadodeartedesign.com QUANTO R$ 30