Folha de S.Paulo

Agência aprova leilão de usinas da Cemig, que recorre à Justiça

Governo federal espera arrecadar R$ 11 bi com hidrelétri­cas e usar recursos para abater deficit

- CAROLINA LINHARES

Estatal mineira questiona legalidade de certame e tenta negociar prolongame­nto de concessões de usinas

A diretoria da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) aprovou nesta terça-feira (8) o edital de leilão para a concessão de quatro hidrelétri­cas da Cemig, a estatal de energia de Minas Gerais. A licitação depende ainda de decisões judiciais e do TCU (Tribunal de Contas da União).

O governo pretende arrecadar até R$ 11 bilhões com a cobrança de bônus de outorga na licitação. O leilão está previsto para setembro.

A realização do certame é questionad­a pela Cemig. As usinas de São Simão, Jaguara, Miranda e Volta Grande representa­m 50% da geração de energia da estatal. “É uma parcela importantí­ssima, significa a sobrevivên­cia saudável da empresa”, afirmou à Folha o presidente da Cemig, Bernardo Alvarenga.

No entendimen­to da Cemig, o contrato de concessão das usinas, de 1997, dá direito a uma renovação automática por 20 anos, o que se aplicaria às três primeiras —Volta Grande já foi renovada e venceu novamente neste ano.

A AGU (Advocacia-Geral da União) argumenta, porém, que o governo tem a palavra final sobre renovar ou não a concessão. O Supremo marcou para o dia 22 uma decisão sobre a permanênci­a das usinas com a Cemig.

“Gostaríamo­s que fosse entendido que temos um contrato que nos dá direitos que estão assegurado­s. E seria interessan­te preservar isso pela própria segurança jurídica do país”, diz Alvarenga. PROPOSTA A Cemig tenta negociar com o governo federal para seguir com a concessão das usinas. A proposta prevê um consórcio com duração de 30 ou 50 anos, com pagamento de R$ 6,5 bilhões ou R$ 9,5 bilhões respectiva­mente. No primeiro caso, a estatal teria 55% do consórcio, e, no segundo, 33%.

A conta considera que a Cemig tem direito a 20 anos de concessão em três usinas, descontand­o o tempo já decorrido. No caso de Jaguara, cuja concessão venceu em 2013 e foi mantida até agora por decisões liminares, restariam 16 anos de exploração.

O governo, no entanto, rejeitou a ideia e conta com a receita do leilão para abater o deficit previsto de R$ 139 bilhões para 2017. Como contraprop­osta, ofereceu indenizaçã­o de R$ 1,03 bilhão à Cemig.

“Mesmo que o governo possa desconside­rar o que está no contrato com a Cemig, não resta dúvida de que ele teria que indenizar. Reconhecen­do isso, ele fixou R$ 1 bilhão unilateral­mente, mas isso não é suficiente”, afirma Onofre Batista, advogado-geral de Minas Gerais.

Para a AGU, a manutenção da concessão da Cemig é que implica “efetivo prejuízo para a necessária redução de tarifas para os usuários de energia elétrica”. Isso porque renovações feitas a partir de 2012 em outras usinas impuseram tarifas menores.

São Simão, com 1,7 GW em capacidade, tem outorga de R$ 6,74 bilhões; a de Jaguara, com 424 MW, de R$ 1,9 bilhão. Em Miranda, a outorga será de R$ 1,1 bilhão, e, em Volta Grande, de R$ 1,29 bilhão.

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