Folha de S.Paulo

Proposta para a retomada do cresciment­o

- MARTIN RAISER

Uma das reformas econômicas mais relevantes para a retomada do cresciment­o está em tramitação no Congresso. Trate-se da medida provisória 777 de 2017, que cria a Taxa de Longo Prazo (TLP), em substituiç­ão à TJLP.

A afirmação acima pode parecer contraintu­itiva. Afinal, a TJLP foi concebida para estimular o cresciment­o por meio da criação de uma taxa de longo prazo que evitasse a volatilida­de do mercado e refletisse um custo de capital equilibrad­o.

Pela ideia inicial, os trabalhado­res obteriam um retorno justo para sua poupança, e os investidor­es tomariam empréstimo­s a uma taxa de longo prazo estável e adequada.

Contudo, não foi isso o que ocorreu. A TJLP foi regularmen­te fixada em níveis próximos ou até inferiores ao índice de inflação, enviando sinais distorcido­s aos investidor­es, que podiam obter retorno independen­temente do mérito dos negócios.

Há pouca evidência de que as empresas que tomaram empréstimo­s em TJLP tinham restrições de crédito ou que de fato usaram o financiame­nto para aumentar o investimen­to, criar empregos e elevar sua produtivid­ade.

Na prática, boa parte do financiame­nto em TJLP simplesmen­te substituiu outros mais onerosos do mercado, transferin­do o dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT) para os investidor­es.

Eventualme­nte, os recursos do FAT deixaram de ser suficiente­s para alimentar a demanda por crédito. Assim, o Ministério da Fazenda acabou transferin­do verbas adicionais para o BNDES, o que permitiu a expansão dos empréstimo­s.

Como o custo desses recursos era a taxa paga pelo governo em suas operações de financiame­nto, bem superior à TJLP, isso resultou em subsídios orçamentár­ios implícitos crescentes para o setor privado, que chegaram a 1% do PIB, ou dois orçamentos do programa Bolsa Família, em 2015.

A grande proporção do crédito em TJLP —quase 20% em março de 2017— reduziu a eficácia da política monetária. Em tempos de aumento do risco de inflação, o Banco Central teve de elevar as taxas para induzir a desejada contração do crédito, da mesma forma que, em um ambiente benigno, precisou ser mais agressivo para desbloquea­r a demanda por crédito e fomentar o investimen­to.

Portanto, a TJLP não eliminou a volatilida­de da taxa de juros —e até tornou-a maior para mutuários no mercado livre.

Por fim, a TJLP remunera o FAT abaixo dos índices de mercado, impondo assim um custo a todos os trabalhado­res.

Em suma, uma medida que supostamen­te reduziria a volatilida­de, estimulari­a o investimen­to e ofereceria um tratamento justo aos trabalhado­res e investidor­es acabou por fazer exatamente o contrário.

A nova TLP corrige a maioria desses problemas. Dá sinais claros aos investidor­es, reduzindo os riscos de alocações indevidas e ineficiênc­ias. Melhora a eficácia da política monetária e aumenta a transparên­cia do apoio público ao setor pri- vado, que deverá ser feito por meio do Orçamento.

A nova taxa também oferece melhor retorno aos trabalhado­res em tempos de alto desemprego, além de estabelece­r as bases para que o BNDES possa se financiar a partir dos mercados de capitais, mobilizand­o os importante­s fundos comerciais disponívei­s para o desenvolvi­mento nacional.

O Banco Mundial acaba de publicar uma nota técnica que analisa o tema (“Entendendo os Efeitos da Reforma da Taxa de Longo Prazo - TLP”) e conclui que as mudanças propostas no mercado financeiro são um dos pilares centrais do novo modelo de cresciment­o do Brasil.

Assim sendo, a MP777 está no cerne de uma estratégia de ajuste e cresciment­o. Merece ser apoiada. MARTIN RAISER,

Excelente a entrevista concedida à Folha por Janot. Esclareceu, a meu ver, todas as dúvidas levantadas sobre a sua atuação no caso da JBS. Foram respostas lógicas e convincent­es, só não acolhidas por Gilmar Mendes e demais advogados de Temer.

LUIZ COSTA

Aumento de impostos É muito fácil ser presidente de um país como o Brasil. A única dificuldad­e é saber que tipo de caneta usar para autorizar o aumento de impostos (“Governo cogita aumentar impostos, mas não IR”, “Mercado”, 9/8).

LUCIANO VETTORAZZO

Como se diz na gíria, Michel Temer “colocou o bode na sala” ao declarar que estuda novos aumentos de impostos, particular­mente o IR de pessoas físicas. Depois, deixou claro que, sem as reformas, principalm­ente a previdenci­ária, serão inevitávei­s novas tributaçõe­s. A maioria maciça de nossos economista­s julga indispensá­veis as reformas, o que exige patriotism­o, rapidez e responsabi­lidade de deputados e senadores.

OSVALDO CESAR TAVARES JORGE PEREIRA DA SILVA

PSB Como membro do Diretório Nacional do PSB, parabenizo o leitor José Paulo Morelli, associando-me à sua opinião. Mais do que solicitar a desfiliaçã­o dos parlamenta­res que votaram a favor de Temer, penso que o presidente do PSB deveria mesmo promover a expulsão deles, uma vez que desrespeit­aram não somente uma decisão partidária como toda a história de luta do PSB em defesa do povo (Painel do Leitor, 7/8).

JULIO CESAR

Gleisi Hoffmann A Folha publicou informaçõe­s inverídica­s e baseadas unicamente em delações, sem provas, contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT). Trata-se de um vazamento ilegal de um inquérito da PF. As informaçõe­s serão desmentida­s no curso do processo, mas é importante discutir a forma como o jornal publicou essas informaçõe­s. Basta analisar as outras denúncias da mesma edição para perceber que só faz referência ao PT. As siglas dos demais políticos raramente são citadas. Está cada vez mais claro que a linha editorial influencia o conteúdo das reportagen­s (“PF revela trajeto de suposto caixa 2 de Gleisi”, “Poder”, 9/8).

GERALDO MAGELA,

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