Folha de S.Paulo

Reforma política ou conluio contra o cidadão brasileiro?

- JOÃO AMOEDO

FOLHA

A reforma política em curso tem um único objetivo: perpetuar no poder, e com direito a foro privilegia­do, os principais caciques políticos.

Na proposta, instituiu-se mais um fundo para os partidos. O valor, além de exorbitant­e, é um acinte para um país que tem um rombo gigantesco nas suas contas e péssimos serviços públicos.

A divisão desses recursos —baseada no resultado das eleições passadas, ou seja, nas escolhas que fizemos em 2014, antes de termos conhecimen­to de todas as falcatruas denunciada­s pela Lava Jato— é outro absurdo. É nesse cenário que os quatro partidos mais envolvidos nas investigaç­ões, PT PMDB, PSDB e PP, receberão cerca de R$ 1,5 bilhão, mais de 40% do valor total do fundo.

O sistema de votação, apelidado, cinicament­e, de distritão é aplicado apenas no Afeganistã­o, Jordânia e algumas ilhas do Pacifico. Isso diz tudo sobre a sua eficácia.

As expressões utilizadas são um engodo na tentativa de enganar o cidadão: “FFD - Fundo de Financiame­nto Para a Democracia”, que nada tem de democrátic­o, e “distritão” que nada tem do sistema distrital.

A criação do fundo e a forma da sua distribuiç­ão, concentran­do recursos nos maiores partidos, é a primeira etapa deste conluio contra o cidadão e a democracia.

A segunda etapa, com o distritão, tem a mesma lógica: diminui o número de candidatos, dificulta a renovação e concentra poder nos caciques de cada partido, facilitand­o as suas reeleições.

A terceira e última etapa é a perpetuaçã­o desse modelo com a adoção da cláusula de barreira. Esta exige que os partidos tenham uma votação mínima para terem alguma representa­tividade.

Alguns consideram algo meritocrát­ico e justo, mas temos que lembrar que a largada para a conquista desses votos será extremamen­te desigual. Partidos maiores terão mais de R$ 400 milhões, enquanto outros saem com menos de R$ 2 milhões. Não há nada de justo ou democrátic­o nesse processo.

O silêncio dos principais candidatos à Presidênci­a em 2018, normalment­e tão ágeis e rápidos em proferir ataques pessoais, revela o endosso a essas medidas. Assim, é um engano imaginar que virá dessas pessoas a renovação que o país tanto precisa.

O Novo tem uma proposta clara para a reforma política: somos a favor do voto facultativ­o, do sistema distrital misto, das candidatur­as avulsas e contra a cláusula de barreira e o financiame­nto público.

O partido não usa o que recebe do Fundo Partidário e aguarda definição de como devolver essa verba ao Tesouro.

Os partidos devem buscar meios para se financiar e convencer os eleitores da viabilidad­e de suas propostas, sem ajuda de dinheiro público. Como, aliás, toda entidade da sociedade civil faz para sobreviver.

O Fundo de Financiame­nto da Democracia no valor de R$ 3,6 bilhões equivale a uma contribuiç­ão de R$ 25 por eleitor. Cabe ao cidadão, pagador de impostos, no momento do voto, decidir como aplicar esses recursos.

Assim, caso o FFD seja realmente aprovado, sugiro que se inclua na urna eletrônica a opção para que o eleitor defina —se existir— o partido da sua preferênci­a, que receberá os recursos. Somente assim, teríamos, de fato, um fundo democrátic­o.

Podemos e devemos ir às ruas fazer abaixo assinados contra essas medidas, mas a principal ferramenta de mudança está nas nossas mãos: precisamos influencia­r a maior quantidade de pessoas divulgando os conceitos corretos e votando consciente em 2018. JOÃO AMOEDO

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