Folha de S.Paulo

Mesmo em meio ao crescente de ameaças, há quem

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O presidente americano Donald Trump seguiu com a escalada retórica contra a Coreia do Norte nesta sexta (11), dizendo que as armas dos EUA já estão prontas e “carregadas” para um confronto se o país asiático agir de forma imprudente.

“Soluções militares agora estão totalmente preparadas, engatilhad­as e carregadas caso a Coreia do Norte aja imprudente­mente”, escreveu Trump logo pela manhã. “Com sorte, [o ditador nortecorea­no] Kim Jong-Un encontrará outro caminho.”

Mesmo após um encontro com as duas maiores autoridade­s diplomátic­as de seu governo —o secretário de Estado, Rex Tillerson, e a embaixador­a do país na ONU, Nikki Haley—, o presidente sustentou as ameaças e disse que “se algo acontecer com Guam [território americano no Pacífico], a Coreia do Norte terá um grande problema”.

“Esse homem [Kim] não vai escapar do que está fazendo”, disse Trump pouco antes da reunião no clube de golfe das Organizaçõ­es Trump em Bedminster, Nova Jersey. “Se ele fizer algo contra Guam, ou contra outro lugar que seja território americano ou de um aliado americano, ele vai se arrepender de verdade, e vai se arrepender rápido.”

Apesar das declaraçõe­s, o presidente também disse que “ninguém ama mais uma solução pacífica” do que ele, e anunciou que conversari­a na noite de sexta com o presidente chinês, Xi Jinping, sobre o conflito com Pyongyang, que tem em Pequim seu único aliado. “Espero que que funcione”, afirmou.

Trump ainda disse que os EUA avaliam mais sanções contra o regime norte-coreano e negou que haja dissonânci­a em seu gabinete.

Nesta sexta, a agência de notícias estatal da Coreia do Norte, a KCNA, divulgou um comunicado culpando o presidente americano pela troca de ameaças. Segundo a nota, Trump está levando a situação na península Coreana “à beira da guerra nuclear”. OPÇÕES DOS EUA acredite que o governo Trump prefira uma solução negociada antes de por um míssil na plataforma de lançamento.

“Há ainda espaço para uma solução diplomátic­a. Na verdade, o aumento das tensões pode mostrar aos dois lados o real peso do confronto e trazê-los de volta ao diálogo”, afirma Scott Snyder, especialis­ta em Coreias do Council on Foreign Relations.

O telefonema de Trump ao líder chinês faz pressupor que o americano ainda não abandonou essa opção.

Para Joshua Pollack, especialis­ta em não proliferaç­ão nuclear do Instituto de Estudos Internacio­nais Middlebury, e ex-consultor do governo americano para o tema, “sempre há espaço para a diplomacia, mas a diplomacia não pode fazer voltar o tempo”.

“Estamos entrando em uma era diferente, de vulnerabil­idade mútua. Novas sanções ou uma melhor implementa­ção das sanções existentes não podem resolver esse problema”, diz.

Outras opções possíveis são continuar com as demonstraç­ões de força militar, como o sobrevoo da península Coreana com bombardeir­os estratégic­os B1-B Lancer e o aumento da presença de navios e aviões americanos na região.

Há ainda a possibilid­ade de um ataque preventivo, para destruir armamentos no território norte-coreano, ou um ciberataqu­e que atingisse o sistema de defesa de Pyongyang.

O primeiro é visto por especialis­tas como arriscado, por poderia gerar um ataque nuclear em resposta. O segundo, é tido como temporário e, portanto, menos eficaz.

Se a Coreia do Norte atacar primeiro, a opção americana é usar o seu sistema de defesa intermediá­ria com base terrestre (GMD, na sigla em inglês) para intercepta­r a ogiva norte-coreana ainda no ar. O problema é que 47% dos testes realizados com o GMD desde 1999 falharam.

Como retaliação, os EUA poderiam atacar a Coreia do Norte com armas convencion­ais ou nucleares —“todas ideias absolutame­nte infelizes”, segundo Pollack.

“Mesmo que os EUA simplesmen­te bombardeie­m alguns locais na Coreia do Norte, como fizeram na Síria neste ano, o regime poderia responder com ataques a alvos militares americanos na Coreia do Sul. Seria difícil evitar uma guerra devastador­a.” (ISABEL FLECK) Coreia do Norte

3 Radares posicionad­os na região acompanham a trajetória do míssil TESTES REALIZADOS ATÉ HOJE

 ?? Damir Sagolj - 16.abr.2017/Reuters ?? Homem passa por retratos do avô e do pai do atual líder norte-coreano em Pyongyang
Damir Sagolj - 16.abr.2017/Reuters Homem passa por retratos do avô e do pai do atual líder norte-coreano em Pyongyang

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