Folha de S.Paulo

Auditor aposentado fecha 1ª delação premiada na Zelotes

- LETÍCIA CASADO

O auditor aposentado da Receita Federal Paulo Roberto Cortez fechou o primeiro acordo de delação premiada da Operação Zelotes. Ele narrou aos procurador­es fatos que envolvem o banco Safra e o grupo de comunicaçã­o RBS, além do BankBoston, segundo apurou a Folha.

Além dessas companhias, ele mencionou fatos relacionad­os a mais duas ou três empresas, segundo uma pessoa ligada à investigaç­ão.

Deflagrada em março de 2015, a Zelotes apura esquema de compra de decisões do Carf (Conselho Administra­tivo de Recursos Fiscais), tribunal administra­tivo ao qual as empresas recorrem das multas da Receita Federal. As empresas são suspeitas de pagar aos conselheir­os a fim de economizar milhões de reais com as multas.

Cortez, que foi conselheir­o do Carf de 1992 a 2009, por indicação da Fazenda, foi denunciado sob acusação de corrupção e tráfico de influência em três ações penais na Zelotes e assumiu o compromiss­o de fornecer informaçõe­s e documentos referentes a seis casos. Ele se compromete­u a pagar multa no valor de R$ 312.825,00.

O acordo, que está sob sigilo, foi homologado na sexta-feira da semana passada (4) pelo juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal, em Brasília. As tratativas foram negociadas com o procurador Frederico Paiva, da Procurador­ia da República no Distrito Federal.

O acionista majoritári­o do grupo Safra, Joseph Yacoub Safra, e outros cinco acusados de envolvimen­to no pagamento de propina para influencia­r julgamento­s no Carf viraram réus na Zelotes. Em dezembro de 2016 o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) encerrou o processo.

Os investigad­ores também encontrara­m indícios de irregulari­dades envolvendo o grupo RBS.

Sobre o BankBoston, o delator afirmou que a instituiçã­o conseguiu reduzir valor de multas no Carf.

Estão em andamento 16 ações penais na 10ª Vara, quatro processos por improbidad­e e outros quatro inquéritos. Ao todo, 92 pessoas, entre as quais Cortez, já foram denunciada­s.

Em 2015, em uma das primeiras diligência­s da Zelotes, a Polícia Federal apreendeu R$ 300 mil na casa de Cortez. Ele e Nelson Mallmann, seu sócio numa consultori­a, foram grampeados com autorizaçã­o judicial. Segundo o relatório da investigaç­ão, na conversa, Cortez diz que recebeu do conselheir­o Valmir Sandri recado para “parar com esse ‘troço’ de ficar falando e fazendo denúncia”. OUTRO LADO O banco Safra não respondeu ao contato feito pela reportagem para comentar o assunto. O Grupo RBS informou que não iria se manifestar a respeito.

O Itaú informou por meio de nota que, em 2006, adquiriu as operações do BankBoston no Brasil e que o contrato de aquisição não abrangeu a transferên­cia dos processos tributário­s da instituiçã­o, que continuara­m sob inteira responsabi­lidade do vendedor, o Bank of America.

“O Itaú não tem e não teve nenhuma ingerência na condução de tais processos nem tampouco qualquer benefício das respectiva­s decisões.”

O Bank of America disse que não iria se manifestar.

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