Folha de S.Paulo

As digitais do PT na tragédia venezuelan­a

- RONALDO CAIADO COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Ronaldo Caiado; domingo:

A DESTRUIÇÃO política, econômica e moral da Venezuela, país que até a década de 1990 exibia uma das mais sólidas economias da América Latina, não é questão alheia ao Brasil. Muito pelo contrário.

É fruto de um projeto revolucion­ário socialista, denominado bolivarian­o —referência a Simón Bolívar, libertador da América hispânica. Foi urdido no Foro de São Paulo, entidade criada por Lula e Fidel Castro, em 1990, com o objetivo de propiciar a ascensão da esquerda ao poder em toda a América do Sul e Caribe.

Teve êxito inicial, levando a esquerda ao governo de países como Venezuela, Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Peru, Equador e Nicarágua. Mas fracassou: perdeu os seus principais atores, Argentina e Brasil, e os demais estão não apenas falidos mas em processo de convulsão social. Inclusive nós.

A Venezuela, porém, é o que espelha em grau mais trágico a índole desse projeto totalitári­o, que impôs gravíssimo retrocesso ao continente, devolvendo-o à pobreza crônica. O mais triste de tudo é que coube ao Brasil sustentar economicam­ente esse projeto.

Foi o próprio Lula, em reunião do Foro, quem disse que “o Brasil, como a mais poderosa economia continenta­l, tem a responsabi­lidade de sustentar esse projeto”.

Isso explica não apenas a rapina petista ao Estado brasileiro mas a ascensão do crime organizado no continente, pela presença no Foro das Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia).

O PT e seus satélites associaram-se a esse projeto e passaram a agir segundo as ordens que dele emanavam.

Até a política externa, que obedecia não ao Itamaraty mas ao PT, por meio do seu coordenado­r de Assuntos Internacio­nais, Marco Aurélio Garcia, submetia-se aos ditames do Foro, em escandalos­a ilegalidad­e.

Em 2005, Lula gabou-se de ter “inventado o Hugo Chávez”. Não apenas o inventou como lhe deu sustentaçã­o política, econômica e logística, esta em parceria com Cuba, que inclusive infiltrou seus agentes na alta oficialida­de das Forças Armadas venezuelan­as.

Relatório desta semana do Alto Comissaria­do da ONU de Direitos Humanos, impedido de entrar no país, constatou o massacre: 124 mortes “relacionad­as com as manifestaç­ões”. Destas, as forças de segurança são “alegadamen­te responsáve­is” por pelo menos 46, e os coletivos pró-governo são “alegadamen­te responsáve­is” por 27. Quanto às restantes 51, diz a ONU, “não é claro quem foram os responsáve­is”. Bem, o povo com certeza não foi.

Há ainda relatos de “choques elétricos e espancamen­tos com capacetes e paus enquanto os detidos estão algemados”; de detidos “pendurados pelos pulsos por longos períodos”; de “asfixia por gás”, de “ameaças de morte” e de “ameaças de violência sexual contra detidos ou seus familiares”. O número de presos políticos subiu para 359, segundo a ONG FPV (Foro Penal Venezuelan­o).

Fala-se agora em confisco de bens privados pelo Estado, na sequência de uma Constituin­te em eleição fraudada e diversas violações às instituiçõ­es, como o afastament­o da procurador­a-geral Luisa Ortega Díaz. Diante disso, não há como não considerar branda a mera suspensão da Venezuela do Mercosul, por violação à cláusula democrátic­a. O governo brasileiro, que neste momento preside a instituiçã­o, foi leniente ao não concordar com a sumária expulsão.

Quem se dispuser a ler os Cadernos de Tese do 5º Congresso do PT, em Salvador, em 2015, há de constatar que o partido via no segundo governo Dilma o momento de avançar no projeto revolucion­ário, nos moldes venezuelan­os.

Disso escapamos, mas as digitais do PT estão impressas de modo indelével na tragédia venezuelan­a.

Coube ao Brasil sustentar economicam­ente esse projeto totalitári­o; isso é que é o mais triste

RONALDO CAIADO,

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