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‘Como se Fosse a Casa’ e ‘A
No próprio livro, Jorge é situado como estando “em viagem”. Vê-se, de saída, que não se trata propriamente da casa: é como se fosse.Em ambos os poetas, modos aforados de pensar a questão.
Predomina no volume uma saudável suspeição diante da instituição-casa, suas conotações de abrigada, ninho.
Tanto em Marques como em Jorge vemos um trabalho louvável contra a visada sentimental que traduz irrefletidamente “casa” em “lar”, “cidade” em “comunidade”. “Casa” como que se desdobra negativamente, trazendo para seu campo de possibilidades significativas o exílio, o alheamento, o não familiar.
Embora irmanados na temática, preservam-se as singularidades estilísticas de ambos os autores.
Onde Marques se empenha em tornar legível para si uma experiência de desfixação, Jorge parece já dominado pela vertigem do estrangeirismo, apostando em análogos formais para o trânsito em que se encontra; espécie de poética da decalcomania que não se furta a enxertar nos textos palavras em idiomas estrangeiros sem prévia ou explicação.
É como se Jorge tivesse sido já tomado pela desordem e pela fragmentação que Marques, com estruturas frasais claras e declarativas mais identificadas à prosa, representa regrar.
A sintaxe de Jorge é menos linear que a de Marques; suas imagens, menos entregues; seus ritmos, mais indeterminados. O leitor habita seus poemas na condição talvez de migrante indesejado. AUTORES Ana Martins Marques e Eduardo Jorge EDITORA Relicário QUANTO R$ 30 (48 págs.) AVALIAÇÃO ótimo