Confederação de desportos aquáticos tem verba retida
Entidade enxuga gastos com redução de pessoal
DE SÃO PAULO
Dois meses depois de assumir a presidência, o paulista Miguel Cagnoni classifica a situação que encontrou na CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) como de “terra arrasada”.
Segundo o dirigente, a entidade tem inúmeras contas bancárias bloqueadas —por irregularidades ou prestações de contas problemáticas— e tem como receita só um repasse advindo dos Correios, seu principal patrocinador.
Outros recursos federais ou provenientes da Lei Piva —verba arrecadada em loterias e distribuída pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) entre as confederações esportivas— também estão bloqueadas, de acordo com ele.
O montante retido estaria na casa de R$ 1 milhão. À Folha, o COB confirmou haver prestações de contas atrasadas da gestão de Coaracy Nunes, que comandou por quase 30 anos a CBDA.
“Nós temos trabalhado com uma única conta liberada. O restante, tentamos liberar aos poucos. Muitas contas estão glosadas até por motivos bobos”, disse Cagnoni, que foi eleito dia 9 de junho.
Antes do início de cada ano, o COB define a quanto cada confederação terá direito das verbas da Lei Piva. A liberação dos valores é feita após a apresentação de projetos, e todos os desembolsos têm de ser comprovados.
Como a CBDA ainda deve comprovação de gastos de anos anteriores, não pode receber novos repasses. A previsão da confederação para 2017 é de até R$ 3,6 milhões.
Com o arrocho forçado, a nova administração foi obrigada a enxugar os gastos.
Houve redução de cerca de 45% na folha de pagamento. Dos cerca de 70 funcionários que estavam dentro da confederação, restaram 37. Mais cortes ainda devem ser feitos.
A quitação de salários dos empregados tem sido feita com o dinheiro da única conta bancária já liberada.
É também daí que saíram os recursos para organizar o Troféu José Finkel, segunda principal competição da natação do país, que termina neste sábado (12).
“Estamos em um regime de contenção de gastos violento e isso reflete no dia a dia”, complementou Cagnoni.
O atual presidente era opositor do ex-mandatário da CBDA, Coaracy Nunes, que a geriu por quase 30 anos (desde 1988) até seu mandato expirar, em março deste ano.
Nunes e outros três dirigentes de sua gestão —Ricardo Cabral, Ricardo de Moura e Sergio Alvarenga— foram presos em abril alvos de operação da Polícia Federal e hoje estão soltos graças a habeas corpus. O caso, entretanto, ainda corre na Justiça.
O Ministério Público Federal em São Paulo acusou-os de corrupção (fraude em licitações e desvios de verba).
Como o mandato de Nunes acabou em março e não havia sido realizada nova eleição, a Justiça do Rio nomeou um interventor, o advogado Gustavo Licks, para administrar a CBDA e organizar o pleito, vencido por Cagnoni.
Presidente da Federação Aquática Paulista entre 1994 e 2017, ele evitou criticar o antecessor, mas contratou auditoria para esquadrinhar a administração de Nunes.
“Nós pegamos, na parte de controles da confederação, uma terra arrasada. Do ponto de vista de administração, está muito caótico”, afirmou.