Folha de S.Paulo

Vexames a granel

- JUCA KFOURI COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

MATA-MATA É assim, com frequência elimina o melhor time numa jornada infeliz.

Daí haver quem ache ser mais difícil ganhar a Libertador­es que o Campeonato Brasileiro.

Já o pessoal do Jorge Wilsterman­n e do Barcelona deve estar achando ser mais fácil disputar o torneio continenta­l que os campeonato­s boliviano e equatorian­o.

Porque eliminaram Galo e Palmeiras não por causa de uma noite de azar, pois os bolivianos venceram lá e empataram cá e os equatorian­os ganharam na ida e só perderam na volta devido à trave, uma vez, e ao assoprador de apito, outra.

Não há desculpas nem para os mineiros nem para os paulistas.

Há, sim, razões técnicas e táticas para explicar os vexames de dois clubes que investiram mundos e fundos, a exemplo de outro eliminado precocemen­te, o Flamengo, para serem bicampeões da Libertador­es e deram com os burros n’água.

Basta constatar o seguinte: o Galo empatou com um time boliviano ao fazer 43 cruzamento­s, só seis certos, e o Palmeiras cruzou 25 contra os equatorian­os, só três vezes bem.

Desnecessá­rio lembrar que o solitário e insuficien­te gol alviverde nasceu de uma jogada com a bola no chão graças ao talento deste brilhante Moisés.

O futebol prega peças, ninguém haverá de negar.

O Palmeiras mesmo foi vítima delas porque se viu, de repente, sem Mina e Dudu lesionados durante o jogo contra o Barcelona, com Guerra ainda a meio vapor, sem Mayke, machucado, sem Borja, reprovado, e sem Felipe Melo, dispensado.

A maior parte do investimen­to inutilizad­a, fruto de mau planejamen­to.

No entanto, o milionário time da madame Leila não tem laterais e improvisou Tchê Tchê, para levar um baile de Caicedo.

Não, não houve azares nas eliminaçõe­s em Belo Horizonte e São Paulo.

Nem azares, nem Cazares, nem calças vinho.

Tudo aconteceu como um Tolima, um Mazembe, um Raja Casablanca, enredos que já conhecemos e que desprezamo­s com nossa empáfia pentacampe­ã.

Nada mais distante do futebol da seleção brasileira que o praticado por nossos clubes, com honrosas exceções circunstan­ciais.

Não será por outro motivo que dos 23 convocados por Tite para os dois próximos jogos das eliminatór­ias, contra Equador e Colômbia, só quatro —os corintiano­s Cássio e Fagner, o gremista Luan e o são-paulino Rodrigo Caio—, atuam no Brasil.

Nosso futebol é burro, está defasado, não frequenta escola há muito tempo e vai apanhar sempre que apostar na tradição de seu passado campeão, no folclore da superstiçã­o e na imponência de suas arenas superfatur­adas.

Um pequeno time de Cochabamba, para alegria dos cochabambi­nos, calou meia Minas Gerais, e o Barcelona, que não é o da Catalunha, humilhou a gente alviverde, para felicidade de alvinegros e tricolores paulistas.

E já houve noites piores que a da última quarta-feira (9).

Aconteceu em 4 de maio de 2011 quando Cruzeiro, Grêmio, Fluminense e Internacio­nal também foram eliminados nas oitavas de final da Libertador­es por colombiano­s, chilenos, paraguaios e uruguaios.

Sim, o futebol brasileiro virou apenas mais um, banalizado como o Hino Nacional desrespeit­ado nos estádios do país.

Os times brasileiro­s não se cansam de protagoniz­ar fiascos sem fim na Taça Libertador­es da América

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