Folha de S.Paulo

Maior prêmio da arte do país busca o equilíbrio

Em sua sexta edição, Marcantoni­o Vilaça divide opiniões ao entregar troféus a consagrado­s e artistas em ascensão

- SILAS MARTÍ

É nítida a tentativa de equilibrar gerações e trajetória­s num prêmio como o Marcantoni­o Vilaça, o mais tradiciona­l e relevante das artes visuais do país. Em sua sexta edição, os troféus se dividem entre consagrado­s e jovens artistas ainda emergentes.

Do lado dos consagrado­s, ou com mais maturidade e grande aceitação do circuito e do mercado, estão Rochelle Costi, Pedro Motta e Fernando Lindote. Do outro, Jaime Lauriano e Daniel Lannes.

Mais justo e inquestion­ável é o prêmio a Lauriano, um artista com estratégia­s estéticas ainda em formação e ao mesmo tempo em sintonia visceral com o atual estado de nervos à flor da pele da nação. Pele, aliás, é um dado importante na equação —ele é o único artista negro premiado, embora houvesse outros entre os finalistas.

Sua obra na irregular e esquizofrê­nica mostra dos finalistas é uma vitrine cheia de armas e instrument­os usados em linchament­os públicos, episódios que inundam as redes sociais desde que o país afundou no caos econômico e político nos últimos anos.

Lauriano está longe da consagraçã­o, mas é um nome promissor, em plena ascensão —perfil do artista que em geral merece esse prêmio.

Daniel Lannes, com pinturas coloridíss­imas e de traços movediços, em que a história do país é alvo constante de questionam­entos e releituras, é outro nome que deveria estar no radar de uma premiação como essas e ganha, nesse momento, uma primeira —e também muito justa— chancela institucio­nal de peso.

No meio do caminho, estão Fernando Lindote e Pedro Motta. Enquanto o primeiro tem longa experiênci­a no circuito e menor penetração no mercado, o segundo tem uma obra mais tímida no circuito institucio­nal e relativo sucesso na arena comercial, com representa­ção de uma das galerias mais poderosas no país e aceitação dos colecionad­ores.

Mais consagrada de todos eles, Rochelle Costi é um nome incontorná­vel na arte do país nas últimas décadas. Sua obra fotográfic­a de pegada conceitual espelha ao mesmo tempo a melancolia e a mercantili­zação do mundo atual. Nesse caso, seu prêmio talvez venha já com certo atraso.

É uma pena, no entanto, que nomes por trás de obras tão relevantes e fortes quanto Alice Miceli, Éder Oliveira e Pablo Lobato tenham ficado de fora dessa leva de troféus.

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