A estabilidade das trevas
Teve vida útil de uma bolha de sabão a balela de Temer de aumentar o Imposto de Renda dos ricos. Pouco importa se o propósito era barganhar apoio no Congresso para as reformas: a quem Temer tentou enganar ao dar vazão à informação?
Como um governo a serviço do agronegócio, da indústria e da banca —de quem, enfim, lastreou sua farsesca ascensão ao poder— seria capaz de apoquentar essa fatia minúscula que o apoia, cerca de 5% dos brasileiros?
Representados no Congresso pelas bancadas BBB (boi, bala e Bíblia), esses 5% têm sido vitoriosos, diante da inércia do restante do país, em sua escalada rumo a uma espécie de “tirania da minoria”.
Temer lhes atende com leis, MPs e decretos, facilita a grilagem e o desmatamento, concede benesses e perdoa dívidas, esvazia a Funai, indica que o Estado brasileiro pouco se importa com chacinas nas profundezas do país.
Não é à toa que nesse caldo viceje a deterioração dos direitos trabalhistas e a pegadinha de que a Justiça brasileira é benevolente com o empregado e tirana com o empregador.
Mas Temer sobrevive. Em nome da estabilidade, disseram os bacanas que livraram o presidente acusado de corrupção de ser investigado pelo Supremo. Sim, em nome da estabilidade das trevas.
Enquanto isso, o PT se faz de morto. Em vez de usar o que lhe resta de capacidade de mobilização para se insurgir contra esse circo de horrores, prefere dar soquinhos cenográficos em Temer e torcer para que o presidente sangre até 2018.
É, assim, cúmplice da estabilidade das trevas.