Brasil, o ocaso de uma nação
Como todos, estou desconcertado. Até há pouco ouvia que a prosperidade e a felicidade tinham se espraiado pela nação, mas o que vejo hoje são notícias e números aflitivos que desfilam impiedosamente nos textos e nas telinhas que habitam o nosso cotidiano.
Multidões de oprimidos pela pobreza vão dormir sem saber se disporão de um prato de comida ao amanhecer. Milhões sem acesso à educação, condenados a perecer num mundo inviável para quem não domina o conhecimento. Legiões de famílias encurraladas pelo caos e pela violência urbana, que esfacelam o porvir e a vida de seus filhos.
Amontoados humanos despencando nas portas impenetráveis dos hospitais públicos. Enfim, a banalização da vida em cada beco, por aqueles que nunca tiveram a chance de compreender o valor e os encantos da existência humana.
Pedindo desculpas por repetir essas obviedades, explico porque me manifesto nestas linhas. Explico apoiado em ideias dos economistas Daron Acemoglu e James Robinson, contestadas por alguns, mas que satisfazem meu intelecto.
Segundo eles, a prosperidade de uma nação tem menos a ver com planos econômicos lustrosos e mais com a existência de instituições robustas, comprometidas com o bemestar da sociedade. Esses mesmos países costumam ser governados por agentes que representam e respondem genuinamente às aspirações dos seus cidadãos.
Nesse ambiente florescem as empresas e os sistemas políticos “inclusivos”, que distribuem as riquezas da nação, atenuam a desigualdade e permitem que a existência possa ser usufruída com dignidade.
Em contraposto, as nações regidas por instituições e dirigentes avacalhados e pervertidos tendem a submergir de forma inapelável.
Por inoperância do Estado, proliferam as empresas “extrativistas”, que na sua voracidade concentram ainda mais a renda e aumentam a desigualdade. Nesse ambiente, os agentes públicos e as corporações privadas estabelecem relações promíscuas para alimentar a ganância e se perenizarem.
Por falta de modelos, disseminamse na sociedade a amoralidade, a corrupção e a desagregação. Ao final, as nações derretem e são levadas pela enxurrada; os desvalidos, como sempre, arrastados na frente.
Daron Acemoglu e James Robinson não precisam ser convocados para nos dizer em qual cenário o Brasil está inserido. As poucas estrelas reluzentes na nossa infindá- vel noite de breu não amenizam o meu sentimento de que a nação sucumbiu de maneira irremediável.
Obviamente, não me refiro a todos os brasileiros. O grupo dos 6,5 milhões de “incluídos”, no qual Deus me inseriu antes mesmo de saber se eu merecia, sempre conseguirá aumentar a altura dos seus muros e desfrutar da pátria amada e seus lindos campos.
Falo do grupo dos 115 milhões de “extraídos”, que talvez nunca mais poderão declamar que são filhos de uma mãe gentil.
Sem poder consertar o escangalho produzido na nossa sociedade pela degradação dos três Poderes de governança e pela ascensão de agentes e grupos equivocados, algumas vezes criminosos, só nos resta, como membros da ala dos “incluídos”, estender a nossa asa protetora sobre os desvalidos que habitam o nosso entorno.
É urgente promover ações que possam amenizar seu sofrimento, já que salvá-los não dá mais. Procurar, também e até onde possível, impregná-los com os sentimentos da consciência crítica e da cidadania.
Mostrar a todos uma realidade que Albert Einstein tão bem soube descortinar: “O mundo é um lugar perigoso para se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer”. MIGUEL SROUGI,
Instigante a dúvida schwartsmaniana sobre o futuro do emprego e a implantação de um harmonioso bem-estar social, quando haverá uma digna emancipação do trabalho. Minha dúvida não é “se”, mas “quando”. Alguns sinais disso estão no fato de que, embora os robôs diminuam o trabalho humano, compensatoriamente, a população mundial tende a encolher graças ao controle técnico-familiar. Com as organizações evoluindo do individual para sistemas coletivos de controle de trabalho e produção e a educação assemelhando as pessoas, alcançaremos um equilíbrio social de excelência no controle trabalho-emancipação moral pela sociedade (“O futuro o emprego”, “Opinião”, 13/08).
SÉRGIO R. JUNQUEIRA FRANCO
Alckmin x Doria
Muito tem sido abordado na Folha sobre obesidade. Vale destacar que um dos grandes inimigos da perda de peso é o nosso querido é inseparável celular. Nos faz ficar horas imóveis, exercitando somente os dedos —não todos— e o globo ocular (série “Brasil acima do peso”, “Saúde + Ciência”).
JAIME NATAN WINIK
Crise no Rio Ontem à noite, parado em mais um daqueles intermináveis engarrafamentos na avenida Brasil, fechei os olhos e imaginei a maior via expressa do Rio de Janeiro sem pichações, bem iluminada, repleta de empresas abertas, livre de arrastões, assaltos, recepcionando turistas do mundo inteiro com modernidade, segurança e beleza dignas de uma cidade maravilhosa. Foram apenas alguns segundos, o suficiente para sentir um nó na garganta sufocante, como a me dizer: tudo isso seria absolutamente natural e verdadeiro sem a roubalheira desenfreada que destruiu todos os nossos sonhos.
RICARDO C. SIQUEIRA