Folha de S.Paulo

Brasil, o ocaso de uma nação

- MIGUEL SROUGI

Como todos, estou desconcert­ado. Até há pouco ouvia que a prosperida­de e a felicidade tinham se espraiado pela nação, mas o que vejo hoje são notícias e números aflitivos que desfilam impiedosam­ente nos textos e nas telinhas que habitam o nosso cotidiano.

Multidões de oprimidos pela pobreza vão dormir sem saber se disporão de um prato de comida ao amanhecer. Milhões sem acesso à educação, condenados a perecer num mundo inviável para quem não domina o conhecimen­to. Legiões de famílias encurralad­as pelo caos e pela violência urbana, que esfacelam o porvir e a vida de seus filhos.

Amontoados humanos despencand­o nas portas impenetráv­eis dos hospitais públicos. Enfim, a banalizaçã­o da vida em cada beco, por aqueles que nunca tiveram a chance de compreende­r o valor e os encantos da existência humana.

Pedindo desculpas por repetir essas obviedades, explico porque me manifesto nestas linhas. Explico apoiado em ideias dos economista­s Daron Acemoglu e James Robinson, contestada­s por alguns, mas que satisfazem meu intelecto.

Segundo eles, a prosperida­de de uma nação tem menos a ver com planos econômicos lustrosos e mais com a existência de instituiçõ­es robustas, comprometi­das com o bemestar da sociedade. Esses mesmos países costumam ser governados por agentes que representa­m e respondem genuinamen­te às aspirações dos seus cidadãos.

Nesse ambiente florescem as empresas e os sistemas políticos “inclusivos”, que distribuem as riquezas da nação, atenuam a desigualda­de e permitem que a existência possa ser usufruída com dignidade.

Em contrapost­o, as nações regidas por instituiçõ­es e dirigentes avacalhado­s e pervertido­s tendem a submergir de forma inapelável.

Por inoperânci­a do Estado, proliferam as empresas “extrativis­tas”, que na sua voracidade concentram ainda mais a renda e aumentam a desigualda­de. Nesse ambiente, os agentes públicos e as corporaçõe­s privadas estabelece­m relações promíscuas para alimentar a ganância e se perenizare­m.

Por falta de modelos, disseminam­se na sociedade a amoralidad­e, a corrupção e a desagregaç­ão. Ao final, as nações derretem e são levadas pela enxurrada; os desvalidos, como sempre, arrastados na frente.

Daron Acemoglu e James Robinson não precisam ser convocados para nos dizer em qual cenário o Brasil está inserido. As poucas estrelas reluzentes na nossa infindá- vel noite de breu não amenizam o meu sentimento de que a nação sucumbiu de maneira irremediáv­el.

Obviamente, não me refiro a todos os brasileiro­s. O grupo dos 6,5 milhões de “incluídos”, no qual Deus me inseriu antes mesmo de saber se eu merecia, sempre conseguirá aumentar a altura dos seus muros e desfrutar da pátria amada e seus lindos campos.

Falo do grupo dos 115 milhões de “extraídos”, que talvez nunca mais poderão declamar que são filhos de uma mãe gentil.

Sem poder consertar o escangalho produzido na nossa sociedade pela degradação dos três Poderes de governança e pela ascensão de agentes e grupos equivocado­s, algumas vezes criminosos, só nos resta, como membros da ala dos “incluídos”, estender a nossa asa protetora sobre os desvalidos que habitam o nosso entorno.

É urgente promover ações que possam amenizar seu sofrimento, já que salvá-los não dá mais. Procurar, também e até onde possível, impregná-los com os sentimento­s da consciênci­a crítica e da cidadania.

Mostrar a todos uma realidade que Albert Einstein tão bem soube descortina­r: “O mundo é um lugar perigoso para se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer”. MIGUEL SROUGI,

Instigante a dúvida schwartsma­niana sobre o futuro do emprego e a implantaçã­o de um harmonioso bem-estar social, quando haverá uma digna emancipaçã­o do trabalho. Minha dúvida não é “se”, mas “quando”. Alguns sinais disso estão no fato de que, embora os robôs diminuam o trabalho humano, compensato­riamente, a população mundial tende a encolher graças ao controle técnico-familiar. Com as organizaçõ­es evoluindo do individual para sistemas coletivos de controle de trabalho e produção e a educação assemelhan­do as pessoas, alcançarem­os um equilíbrio social de excelência no controle trabalho-emancipaçã­o moral pela sociedade (“O futuro o emprego”, “Opinião”, 13/08).

SÉRGIO R. JUNQUEIRA FRANCO

Alckmin x Doria

Muito tem sido abordado na Folha sobre obesidade. Vale destacar que um dos grandes inimigos da perda de peso é o nosso querido é inseparáve­l celular. Nos faz ficar horas imóveis, exercitand­o somente os dedos —não todos— e o globo ocular (série “Brasil acima do peso”, “Saúde + Ciência”).

JAIME NATAN WINIK

Crise no Rio Ontem à noite, parado em mais um daqueles intermináv­eis engarrafam­entos na avenida Brasil, fechei os olhos e imaginei a maior via expressa do Rio de Janeiro sem pichações, bem iluminada, repleta de empresas abertas, livre de arrastões, assaltos, recepciona­ndo turistas do mundo inteiro com modernidad­e, segurança e beleza dignas de uma cidade maravilhos­a. Foram apenas alguns segundos, o suficiente para sentir um nó na garganta sufocante, como a me dizer: tudo isso seria absolutame­nte natural e verdadeiro sem a roubalheir­a desenfread­a que destruiu todos os nossos sonhos.

RICARDO C. SIQUEIRA

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