Folha de S.Paulo

Terceiro setor em tempos de crise

Criar o hábito da doação nos cidadãos e empresário­s é um longo caminho e uma questão muito séria, sobretudo em tempos de crise

- RAÍ OLIVEIRA www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Neste momento de grave crise que afeta severament­e a economia do país, é importante que se chame a atenção para o impacto que o trabalho das organizaçõ­es do terceiro setor tem nas vidas dos brasileiro­s.

Muitas vezes, projetos sociais são o único acesso de moradores de comunidade­s carentes a serviços como educação, cultura, esporte, saúde e cidadania. Mesmo assim, o financiame­nto via empresas ou via doações individuai­s vem diminuindo drasticame­nte desde 2014, ano em que a crise ganhou proporções maiores.

Nem mesmo as instituiçõ­es que carregam consigo nomes de pessoas conhecidas escapam. É muito comum ouvirmos que a associação a um nome famoso automatica­mente gera receita para uma ONG.

Isso não é verdade. Temos conversado com diversas organizaçõ­es e, sejam elas mais tradiciona­is ou menos conhecidas, a escassez de recursos é regra para todas.

Também não é verdade que ONGs já consolidad­as, como é o caso da Fundação Gol de Letra, por exemplo, que fundei há 18 anos juntamente ao Leonardo, têm tido vida mais fácil. O terceiro setor nunca esteve tão desprovido.

Números divulgados recentemen­te pela Associação Brasileira dos Cap- tadores de Recursos (ABCR), uma rede nacional dos profission­ais de mobilizaçã­o de recursos para o terceiro setor, estimam que cerca de 5 milhões de brasileiro­s são atendidos anualmente —e gratuitame­nte— pelas mais de 350 mil organizaçõ­es sem fins lucrativos atuantes no Brasil.

Em 2015, o IBGE estimava que 2,2 milhões de trabalhado­res formais estavam empregados no setor, que também responde por 1,5% do PIB.

Mesmo com essa atuação relevante, o desinteres­se das empresas em um ambiente que sequer as onera preocupa muito.

Dados do próprio Ministério do Esporte, divulgados neste ano, dão conta de que, em média, somente 20% dos recursos aprovados mediante a Lei de Incentivo ao Esporte conseguem ser captados pelas ONGs e apenas 35% do teto de captação aprovado chega efetivamen­te às organizaçõ­es. Recursos esses que, vale ressaltar, provêm de renúncia fiscal.

Assim, o terceiro setor tem que ser criativo para driblar essa situação. E tem sido.

Nós, por exemplo, durante o prazo de envio da declaração do Imposto de Renda, lançamos uma campanha para incentivar pessoas físicas a doarem parte de seus impostos devidos para projetos da fundação inscritos nos Fundos da Criança e do Adolescent­e.

Se as pessoas se dessem conta de que não precisam pôr a mão no bolso para ajudar as outras —isso sem contar a possibilid­ade de ser voluntário—, o número de atendiment­os seria muito maior.

Em suma, o financiame­nto do terceiro setor no Brasil precisa amadurecer bastante. Criar o hábito da doação nos cidadãos brasileiro­s e nos empresário­s é um longo caminho e uma questão muito séria, principalm­ente em tempos de crise.

Não investir na área social por motivos de retenção dos gastos ou economia é um pensamento que pode parecer lógico, mas é equivocado. Quanto pior é a crise vivida por uma comunidade, maior deve ser o investimen­to social. RAÍ OLIVEIRA,

Interessan­te a fala de Geraldo Alckmin sobre o novo na política. No meio da confusão política atual, às vezes, o novo pode virar uma cilada. O Brasil já teve muitos aventureir­os e milagreiro­s, e o resultado é inesquecív­el. Em 2018, queremos a eleição da experiênci­a. Experiênci­a com passado limpo. Chega de aventureir­o. Os 13 milhões de desemprega­dos estão aí para contar.

IGOR ROSSINI

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: MERCADO Uma foto do economista Cláudio de Moura Castro ilustrou, por equívoco, citação de Sergio Firpo, professor do Insper, na reportagem “Para sobreviver, sindicato terá de se reinventar, dizem pesquisado­res”. Veja ao lado a foto correta de Firpo.

O loteamento de cargos culturais no Rio de Janeiro aos ex candidatos que não venceram suas eleições, tratado na coluna de Marcius Melhem (“Distribuin­do cultura”, “Ilustrada”, 13/8), nada mais é do que o “modus operandi” da política brasileira e, no caso do Rio, a continuaçã­o do afundament­o dessa linda cidade.

MARCOS BARBOSA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil