Folha de S.Paulo

Delação da OAS encolhe para ocorrer até a saída de Janot

Número de possíveis colaborado­res da empresa caiu de 50 para 20 por orientação de procurador­es da Lava Jato

- WÁLTER NUNES FLÁVIO FERREIRA

Força-tarefa não teria mão de obra suficiente para o trabalho em tão pouco tempo e deve priorizar alto escalão

A colaboraçã­o premiada da construtor­a OAS, que tinha sido negociada como uma megadelaçã­o com mais de 50 envolvidos, foi desidratad­a e agora cerca de 20 pessoas, entre acionistas e executivos, devem assinar o compromiss­o para confessar delitos da empreiteir­a.

Os outros 30 funcionári­os da companhia que participav­am das tratativas agora serão incluídos como testemunha­s ou lenientes, que são pessoas que prestam informaçõe­s no processo, mas não respondem judicialme­nte por um crime.

A decisão de enxugar a delação da OAS foi tomada porque a força-tarefa da Lava Jato quer fechar a colaboraçã­o da empreiteir­a antes da saída de Rodrigo Janot do cargo de Procurador-Geral da República, em 17 de setembro.

Segundo pessoas envolvidas na negociação do acordo, a Procurador­ia não teria número de procurador­es sufici- ente para dar conta do volume de trabalho em tão pouco tempo. Não está descartado que o número de delatores diminua ainda mais, de acordo com um dos envolvidos.

No início das reuniões, a Procurador­ia determinou que a OAS juntasse tudo o que havia sobre pagamento de propina. Em fevereiro do ano passado, começou um garimpo na empresa para juntar histórias de corrupção.

Agora a Procurador­ia resolveu descartar histórias que eles julgaram menos importante­s e se concentrar nos casos de maior repercussã­o. Com essa mudança, dezenas de funcionári­os que ocupavam cargos intermediá­rios na hierarquia da empresa, como gerentes de obras, deixaram de ser candidatos a delação e agora dão suporte em episódios contados pelos futuros delatores. ANDAMENTO Há três semanas, executivos da OAS foram até a Procurador­ia-Geral da República para confirmar à força-tarefa o teor dos documentos fornecidos pelos advogados da empresa. Eles assinaram, na ocasião, uma ata formalizan­do a reunião.

Os últimos relatos de corrupção da empreiteir­a foram entregues para a Lava Jato há mais de dois meses. Os próximos passos são a definição das penas dos colaborado­res e depois a assinatura e homologaçã­o do acordo.

O principal candidato a delator é o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que fazia o contato da empreiteir­a o poder. Parte dele as principais histórias envolvendo políticos, como o ex-presidente Lula e os senadores tucanos José Serra e Aécio Neves.

Os herdeiros do grupo empresaria­l, César Mata Pires Filho e Antonio Carlos Mata Pires, também estarão entre os colaborado­res. Filho deverá delatar governador­es e Antonio Carlos vai falar sobre a relação da empresa com a Funcef, fundo de pensão dos funcionári­os da Caixa Econômica Federal.

Também entregaram relatos e estão na lista de possíveis delatores os ex-diretores financeiro­s Alexandre Tourinho e Sérgio Pinheiro e o diretor de relações institucio­nais do grupo Roberto Zardi.

Agenor Franklin Medeiros, que já depôs como testemunha no processo contra Lula sobre o tríplex do Guarujá, e Paulo Gordilho, responsáve­l pela reforma do apartament­o no litoral, também negociam colaboraçã­o.

Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa da OAS informou que a empresa não iria se manifestar.

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