Folha de S.Paulo

O PAI DO NOIVO

Ex-prefeito do Rio e hoje vereador, Cesar Maia defende o governo Michel Temer e nega que o filho Rodrigo, presidente da Câmara, tenha atuado para assumir o Palácio do Planalto; ‘Ele não é um jogador’, diz

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Henrique Cardoso tem sido “ciclotímic­o”.

“A posição dele oscila. Significa que ele está inseguro em relação ao quadro. FHC não é uma referência de opinião para as circunstân­cias.”

Recuperand­o-se de uma cirurgia na vesícula e hérnia umbilical, Maia se submete a sessões de fisioterap­ia três vezes por semana. Em casa, caminha um hora por dia. No exercício do mandato, o vereador pelo DEM se alia a dois vereadores do PSOL em oposição ao prefeito Marcelo Crivella (PRB).

A exemplo do ex-governador Leonel Brizola (19222004) —um antigo mentor—, Maia recebe políticos de diferentes partidos em seu apartament­o. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o deputado Sérgio Zveiter (que pediu desfiliaçã­o do PMDB-RJ) já passaram por lá.

De acordo com Maia, Zveiter insistiu para que convencess­e o filho sobre o ocaso de Temer. Morador do mesmo prédio, o primeiro relator da denúncia contra o presidente na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) da Câmara foi três vezes ao apartament­o do ex-prefeito para falar sobre o destino de Temer.

Maia diz que se recusou a interceder nessa questão.

O ex-prefeito diz que soube pelos jornais sobre a mensagem de voz que sua mulher, Mariangele­s, enviou ao filho para que não traísse Temer.

“Minha mulher é chilena. A única das irmãs que não se naturalizo­u. Você acha que ela me perguntou alguma coisa quando mandou mensagem para o Rodrigo?” FUTURO Em dezembro, diz, foi a vez do ex-prefeito Eduardo Paes procurá-lo após oito anos de afastament­o. Cria de Maia, de quem foi subprefeit­o, Paes foi um duro opositor nas eleições de 2008. E, segundo Maia, manteve o ritmo de ataques após a disputa eleitoral.

No fim do ano passado, procurou o velho padrinho político em busca de conselhos. Segundo Maia, Paes perguntou se deveria deixar o PMDB para concorrer ao governo do Estado em 2018.

“Vai ser muito difícil para o PMDB em 2018”, resume o vereador.

De casa, Maia envia uma newsletter por e-mail a cerca de 70 mil leitores a quem oferece suas análises. Ele afirma duvidar que o STF (Supremo Tribunal Federal) aceite um pedido de abertura de processo contra Temer antes das eleições de 2018 e diz não acreditar que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, hoje preso, entregue seus colegas numa eventual delação premiada.

“Será que Cunha, que era considerad­o um profission­al, confiável para seus pares, teria produzido registros para isso? O que ele vai fazer? Vai sair delatando deputado? Dizem que ele tem o foco dele. O Moreira. Não sei se é o Temer. Vai ser isso. Mas dizem que vai ser na base do Joesley, sem vídeo.”

O ex-prefeito rechaça rumores de que o filho teria refreado o desejo de assumir a Presidênci­a por medo de se tornar alvo da Operação Lava Jato. “Nunca pedi dinheiro a empresário. Não tinha nem papo.”

Maia se exime de qualquer responsabi­lidade pela crise que o Estado do Rio atravessa, alegando que só apoiou o governo Luiz Fernando Pezão (PMDB) sob pressão de Aécio, que “estava de cabeça” na consolidaç­ão de ampla aliança, o “Aezão”.

Sobre seu próprio futuro político, Maia brinca que gostaria de ser vereador para sempre. Mas ele sonha com o Senado. Sobre o destino do filho Rodrigo, o ex-prefeito diz que o presidente da Câmara deveria tentar a reeleição. Ele conta que muitos eleitores o procuram para ter acesso a Rodrigo.

Antes Rodrigo Maia era “o filho de Cesar”. “Agora, eu que sou o pai do Rodrigo.”

Um homem como o Temer, que já foi tudo, vai fazer um cara botar um dinheiro numa mala e levar? Se você dissesse que é um júnior, um corrupto de terceiro escalão… Ninguém acredita que Temer esteja envolvido

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Ricardo Borges/Folhapress O ex-prefeito e atual vereador Cesar Maia (DEM-RJ), em seu apartament­o na zona sul do Rio

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