Folha de S.Paulo

Que seja um apelo por justiça e igualdade e compaixão.”

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Foram os gritos de “vergonha” e com o nome de Heather Heyer, morta no sábado (12) quando protestava contra uma manifestaç­ão de supremacis­tas brancos em Charlottes­ville, na Virgínia, que abafaram neste domingo a voz de Jason Kessler, organizado­r da marcha fascista.

Diante da Prefeitura, ele tentou dar entrevista sobre os “trágicos eventos” da véspera. Correu e foi escoltado pela polícia ao ser atingido pelo soco de um manifestan­te.

A duas quadras, o silêncio dominava uma vigília realizada no local onde Heyer, 32, foi atropelada com outros manifestan­tes no sábado.

A mistura de consternaç­ão e indignação nos dois quarteirõe­s separados por uma rua de pedestres que abriga lojas e restaurant­es ilustrava o clima da cidade universitá­ria de 47 mil habitantes no dia seguinte ao mais violento confronto do passado recente entre supremacis­tas brancos e manifestan­tes antirracis­mo.

O autor do ataque de sábado, James Alex Fields Jr., 20, foi preso e deve ser acusado de homicídio nesta segunda.

A presença policial e a interdição de uma rua principal também lembravam os moradores que ainda havia o risco de mais enfrentame­ntos. Agentes vigiavam a estátua do general Robert E. Lee, líder das tropas confederad­as na Guerra Civil dos EUA (1861- 1865), que motivou a marcha dos supremacis­tas após ter sua retirada anunciada.

Mesmo após a saída de Kessler, que culpou a polícia por não ter evitado o confronto, a tensão continuou perto da Prefeitura. Um grupo liderado pelo Partido Comunista Revolucion­ário cedia o altofalant­e a moradores e manifestan­tes antisuprem­acistas.

A mãe de Heyer, Susan Bro, fez um apelo pelo fim do ódio em declaração ao “Huffington Post”. “Heather queria o fim da injustiça. Não quero que a morte dela seja um motivo para mais ódio. Quero DIREITA ALTERNATIV­A A presença perto da prefeitura, em diferentes momentos, de três homens identifica­dos como integrante­s da direita alternativ­a (“altright”) acirrou os ânimos, mas não houve confronto.

“Esse é o supremacis­ta local”, disse uma mulher ao se aproximar do empresário aposentado Mason Pickett.

A maioria dos participan­tes do protesto “Unir a Direita” —na noite de sexta, quando carregaram tochas acesas como a Ku Klux Klan, e no sábado— era de fora.

À Folha, Pickett, 64, negou apoiar Kessler e disse que estava ali para escrever num mural onde se liam mensagens de resistênci­a e contra o nazismo. “Estou no meio. Lamento o que houve, mas os dois lados queriam briga.”

Carl Dix, um dos líderes do Partido Comunista Revolucion­ário, veio de Nova York para protestar contra os supremacis­tas. “Não podemos ignorá-los, esse discurso tem que ser combatido. Na Alemanha, as pessoas também começaram ignorando Hitler, e olha o que aconteceu.”

A funcionári­a do hospital da Universida­de da Virgínia Candice Maupin, 37, preferiu sair de casa com um taco de beisebol. “É uma arma não letal e preciso me defender e defender as minhas filhas, de 15 e 19 anos, porque esses homens são loucos”, disse, em alusão aos extremista­s de direita.

“É muito triste, porque vejo a mesma besteira se repetindo. Aconteceu com a minha avó, negra, e agora está acontecend­o comigo, com as minhas filhas. Não achei que teríamos que voltar à essa mesma luta.”

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Chip Sommodevil­la/Getty Images/AFP Manifestan­tes antirracis­mo protestam em discurso de líder supremacis­ta em Charlottes­ville, pedindo que vá embora

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