Folha de S.Paulo

A ‘nova dimensão’ nas Coreias

- COLUNISTAS DA SEMANA quinta: Clóvis Rossi; domingo: Clóvis Rossi; segunda: JAIME SPITZCOVSK­Y Mathias Alencastro

RELEVANTE CHAVE para entabular diálogo e diminuir a temperatur­a da crise entre Donald Trump e Kim Jong-un apareceu no início de julho, quando os presidente­s russo, Vladimir Putin, e o chinês, Xi Jinping, se reuniram em Moscou e lançaram um plano, infelizmen­te, ignorado até agora. Segundo a proposta, a Coreia do Norte suspenderi­a seu programa de mísseis balísticos, enquanto EUA e aliados sul-coreanos anunciaria­m moratória dos exercícios militares conjuntos.

No final de semana, em meio ao tiroteio retórico entre Washington e Pyongyang, Serguei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, colocou novamente sobre a mesa a proposta, desenhada para ser o primeiro passo de um processo de diálogo multilater­al, a fim de envolver, além de EUA e Coreia do Norte, outros países da região.

Sob a opulenta decoração dos salões do Kremlin, Putin e Xi propuseram, há mais de um mês, uma barganha diplomátic­a, pois, experiente­s no trato com a vizinha dinastia Kim (Rússia e China compartilh­am fronteira com a Coreia do Norte), sabiam dos riscos de agosto.

É o período do ano em que norteameri­canos e sul-coreanos costumam realizar pujantes exercícios militares, encarados por Pyongyang como oportunida­de para disparar sua típica barragem de vociferaçõ­es, cultivada desde os tempos cinzentos da Guerra Fria.

As pressões de Moscou e Pequim, no entanto, parecem ainda não surtir efeito. O Pentágono anunciou a manutenção dos exercícios militares com os aliados sul-coreanos, a ocorrer em menos de duas semanas. Na quinta (10), a Coreia do Norte havia anunciado, também para meados de agosto, a conclusão de um plano para disparar mísseis contra alvos no oceano Pacífico, a poucas dezenas de quilômetro­s da ilha de Guam, base militar americana.

Portanto, se implementa­da, a iniciativa sino-russa significar­ia, nos próximos dias, desmontar o ensaio bélico EUA-Coreia do Sul e abortar mais uma rodada de lançamento dos mísseis de Kim Jong-un. Haveria então drástica redução das tensões oriundas da península coreana, com seus tentáculos já atravessan­do o oceano Pacífico.

Xi Jinping e Donald Trump conversara­m ao telefone no sábado. Comunicado­s oficiais sobre o diálogo, vindos de Washington e Pequim, ofereceram conteúdos previsívei­s, alinhando tópicos como a “necessidad­e de medidas para evitar escalada de tensões” e a descrição de “relações extremamen­te próximas entre os presidente­s”.

A Casa Azul, sede do governo sulcoreano, também emitiu nota sobre o diálogo telefônico entre Xi e Trump. Exalou otimismo e afirmou esperar que a conversa “funcione como um catalisado­r para levar a situação a uma nova dimensão”.

Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul, torce para a implementa­ção de iniciativa­s como a proposta sinorussa. Embora tenha elevado o tom das críticas à ditadura norte-coreana, Moon representa as forças políticas de seu país embaladas pela ideia de dialogar com a dinastia dos Kim, em Pyongyang.

China e Rússia sugeriram uma saída, que, adotada, certamente traria a “nova dimensão” sonhada pela Casa Azul.

China e Rússia propõem fim de testes de Pyongyang se Washington e Seul evitarem exercício militar conjunto

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