Folha de S.Paulo

Projeto que cria a TLP emperra no Congresso

- MARIANA CARNEIRO

Vantagens apontadas pela indústria > Crédito do BNDES financia investimen­tos de longo prazo, raro no mercado privado > Taxas mais baixas tendem a baratear os investimen­tos > Com financiame­nto, empresas se animam a comprar máquinas e investir

DE BRASÍLIA

A mudança da taxa de juros do BNDES produzirá uma economia de quase R$ 100 bilhões aos cofres públicos, se aprovada como quer a equipe econômica do governo.

A estimativa de economia foi calculada pelo coordenado­r do Centro de Finanças do Insper, Marco Bonomo, em estudo com Luis Bento e Paulo Ribeiro, e representa quanto o Tesouro Nacional e o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhado­r) deixariam de pagar em subsídios quando fornecem crédito a taxas mais baixas que as de mercado para empresas que acessam empréstimo­s no banco de fomento.

A medida é tratada pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central como uma ação de longo prazo no esforço de contenção de despesas e redução da taxa de juros.

O Congresso discute neste momento se aprova a mudança. A ideia é extinguir a atual taxa do banco, a TJLP (taxa de juros de longo prazo), hoje em 7% ao ano.

Como ela é menor do que os juros que o governo paga ao tomar dinheiro emprestado (9,25% ao ano), a diferença é bancada pelo Tesouro e pelo FAT, usuais repassado- res de recursos ao BNDES.

Em seu lugar, seria implantada ao longo de cinco anos uma nova taxa, a TLP (taxa de longo prazo), equivalent­e ao custo de captação do governo, eliminando subsídios.

A economia —que no caso do Tesouro ocorreria durante todo o prazo dos empréstimo­s, até 2060—, diz Bonomo, poderia contribuir na redução da dívida pública, atenuando a escalada do endividame­nto do país. O ritmo acelerado da dívida preocupa economista­s e empurrou o governo ao atual ajuste fiscal.

Entre analistas do setor privado e investidor­es, a mudança é considerad­a uma das mais relevantes medidas no controle de gastos no longo prazo, junto com a reforma da Previdênci­a. Isso porque a previsão é que a dívida bruta supere 90% do PIB na próxima

DE BRASÍLIA

O impasse em torno da TLP atrasou a tramitação da medida provisória que cria a nova taxa no Congresso.

A comissão que analisa a MP adiou na semana passada a leitura do relatório.

Na sexta (11), o presidente da comissão, o senador Lindberg Farias (PT-RJ), cancelou nova reunião, década, patamar considerad­o extremamen­te elevado e acima do de países semelhante­s ao Brasil.

Sem a mudança, a dívida aumentará em R$ 278 bilhões, diz o estudo dos economista­s do Insper, o equivalent­e a 6,37% do passivo público ou quase 5% do PIB.

O cálculo considera os subsídios nos empréstimo­s do BNDES com dinheiro enviado pelo Tesouro no passado. Adicionalm­ente, prevê quanto será gasto em benefícios às empresas se o banco seguir liberando crédito ao mesmo ritmo com dinheiro do FAT.

A economia também seria menor se, em vez de cinco anos, a transição se estendesse por 10 ou 20 anos, porque os subsídios durariam mais tempo. As projeções apontam ainda que o impacto da TLP seria mais relevante se marcada para esta terça (15).

Se não for votada até 6 de setembro nos plenários da Câmara e do Senado, a MP perderá a validade.

Irritado, o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), afirmou que Lindberg quebrou acordo e, “de maneira isolada, cancelou a leitura do relatório”.

“Lindberg está jogando para tentar atrapalhar a votação, mas acreditamo­s que haverá tempo para votar”, disse o relator, deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), favorável à mudança da taxa.

MARINA DIAS comparado com a redução da Selic. Um corte de um ponto percentual na taxa básica de juros geraria um ganho de R$ 9 bilhões nos subsídios.

Uma terceira saída, o aumento da TJLP em um ponto percentual, teria mais efeito, de R$ 57 bilhões, porém ainda abaixo do ganho esperado com a nova taxa. RESISTÊNCI­A A extinção da TJLP, no entanto, enfrenta resistênci­a do setor industrial, uma vez que a TLP aumentará o custo dos empréstimo­s do BNDES.

O argumento é que isso poderá fazer com que as empresas desistam de comprar de máquinas e equipament­os ou ainda empurre potenciais compradore­s a fornecedor­es estrangeir­os, com linhas de crédito mais vantajosas.

O diretor de competitiv­idade da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), José Ricardo Roriz, afirma que taxa mais baixa no BNDES é necessária porque os juros no Brasil são excessivam­ente elevados, o que ele classifico­u de “bolsa banqueiro”.

Estudo da Fiesp aponta que a taxa brasileira ficou acima do que seria o esperado —juros americanos mais o risco brasileiro— na maior parte do tempo desde 1996, o que significou custo de R$ 2,9 trilhões ao país e contribuiu para elevar a dívida pública.

Bonomo, por sua vez, diz que o fim dos subsídios elevará o poder de fogo da política do BC, o que terá como efeito juros mais baixos para todos os setores da economia.

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